Introdução: Historicamente, pacientes com valva aórtica bivalvular (VAB) foram excluídos dos primeiros ensaios clínicos de implante transcateter de valva aórtica (TAVI) devido às complexidades anatômicas associadas a essa condição. Com a expansão das indicações para o procedimento, estudos recentes têm mostrado resultados promissores sobre a viabilidade do TAVI nessa população. Este estudo tem como objetivo avaliar os resultados do TAVI em uma população de "mundo real".
Métodos: Estudo observacional prospectivo, que incluiu pacientes submetidos a TAVI em um centro terciário de Cardiologia do Sistema Único de Saúde, no período entre dezembro de 2020 e janeiro de 2025.
Resultados: Dos pacientes submetidos a TAVI, 16% apresentavam VAB (67 pacientes). A idade média foi de 76 ± 6,64 anos, sendo 61% do sexo masculino (41 pacientes). A maioria encontrava-se na classe funcional II (38,8%). O EuroScore II médio foi de 4,23 (± 4,49) e o STS médio foi de 3,04 (± 1,8). Quanto às comorbidades, 67% eram hipertensos, 53% dislipidêmicos, 19% apresentavam doença renal crônica e 31% tinham histórico de acidente vascular encefálico (AVE) prévio. Os dados ecocardiográficos pré-procedimento mostraram uma fração de ejeção média de 57% (± 10,4%) e um gradiente médio de 58,6 (± 18,4). Próteses balão-expansíveis foram implantadas em 84% dos casos. O sucesso do dispositivo foi observado em 95% dos casos, enquanto o sucesso clínico foi de 97%. As complicações e eventos intra-hospitalares estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1 |
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Complicação |
Bicúspide |
Tricúspide |
Implante de Marcapasso |
5 (3.11%) |
21 (3.72%) |
BAV |
4 (2.48%) |
21 (3.72%) |
Dist. Condução |
9 (5.59%) |
35 (6.21%) |
Complicações Vasculares |
2 (1.24%) |
19 (3.37%) |
Insuficiência Renal Aguda |
3 (1.86%) |
8 (1.42%) |
Complicações Hemorrágicas |
3 (1.86%) |
3 (0.53%) |
AVC |
0 (0.00%) |
2 (0.35%) |
IAM |
0 (0.00%) |
1 (0.18%) |
Óbitos intrahospitalares |
3 (1.86%) |
5 (0.89%) |
Conclusão: O TAVI em pacientes com VAB é uma opção segura, viável e eficaz. No entanto, a seleção adequada dos pacientes e uma avaliação anatômica detalhada são fundamentais para otimizar os resultados. Os riscos associados, como a necessidade de marca-passo e acidente vascular cerebral (AVC), devem ser cuidadosamente considerados, mas não devem contraindicar o tratamento. Estudos adicionais são necessários para aprofundar a compreensão sobre a segurança e eficácia do TAVI nessa população específica.