Introdução: Fístula coronário-pulmonar é uma comunicação anômala entre uma artéria coronária e a artéria pulmonar. São frequentemente achados incidentais em exames de imagem, sendo o tratamento percutâneo complexo e indicado em casos sintomáticos e de alto débito.
Caso:
Mulher de 63 anos, hipertensa, dislipidêmica e ex-tabagista, com histórico de revascularização miocárdica em 2020 (anastomose de artéria mamária esquerda com artéria descendente anterior e veia safena para artéria coronária direita e marginal esquerda). Após alta, evoluiu com dispneia.
Nos últimos quatro meses, passou a apresentar dispneia CF 3 e dor anginosa CCS 3, sendo solicitado cateterismo que mostrou fístula de alto débito da artéria circunflexa para a artéria pulmonar (figura 1).
Figura 1
Ao exame físico com sinais vitais estáveis e sem alteração cardíaca e pulmonar. Ecocardiograma com função ventricular preservada e PSAP 42 mmHg. Frente sintomas limitantes, foi indicado fechamento percutâneo de fístula com coil. Durante o procedimento, houve perfuração Ellis III da artéria circunflexa (figura 2), tratada com implante de stent recoberto, sendo visto a oclusão de ramo AV (artéria que nutria a fístula para o tronco da pulmonar) e consequente oclusão do fluxo para artéria pulmonar (figura 3).
Figuras 2 e 3
Observado também dissecção do tronco da coronária esquerda, corrigida com stent farmacológico (figuras 4 e 5). Ao final do procedimento observado bom aspecto angiográfico das artérias tratadas, sem sinais de complicações e fluxo distal TIMI 3. Apresentou ascensão de troponina, sem dor torácica, com ecocardiograma de controle sem evidência de derrame pericárdico, função ventricular preservada e sem alteração segmentar. Angiotomografia de controle com enxertos cirúrgicos e stents pérvios, sem evidência de fístula. Recebeu alta hospitalar após 6 dias. Em retorno ambulatorial referiu melhora completa de dispneia e angina.
Figuras 4 e 5
Discussão:
A oclusão percutânea é indicada em fístulas coronarianas se houver sintomas, alto débito ou alto risco de complicação, como dilatação aneurismática significativa. A cirurgia pode ser considerada quando o tratamento percutâneo não é possível. O tratamento percutâneo tem riscos, como perfuração arterial, dissecção coronariana e infarto, especialmente em fístulas grandes que podem gerar roubo coronariano significativo.
Conclusão: O manejo da fístula coronário-pulmonar é complexo. O uso de stent recoberto não é rotina nessa intervenção, mas mostrou sucesso no caso apresentado.