Fundamento
Há evidências limitadas e contemporâneas prospectivas na América Latina que comparam as características e o prognóstico de pacientes diabéticos com doença arterial coronariana (DAC), doença arterial periférica (DAP) ou doença aterotrombótica combinada (DAC e DAP).
Métodos
O registro Network to Control Atherothrombosis (NEAT) é um estudo prospectivo nacional de pacientes com doença arterial coronariana (DAC) e doença arterial periférica (DAP) conhecida no Brasil. Um total de 2.015 pacientes foi incluído em 21 centros, de setembro de 2020 a março de 2022. O acompanhamento de todos os pacientes foi de um ano. Foram coletadas as características dos pacientes, os medicamentos em uso e os dados laboratoriais. Para esta análise, foram selecionados pacientes diabéticos, divididos conforme a presença de DAC, DAP ou doença aterotrombótica combinada, definida como a combinação de DAC e DAP. Para comparar os grupos quanto às variáveis basais, histórico médico e medicações, foi usado o teste de Fisher (categóricas) e ANOVA (contínuas). As taxas de eventos foram estimadas por 100 pessoas-ano, e as curvas de tempo até o evento comparadas pelo teste de Log-Rank.
Resultados
Do total de pacientes incluídos, 48.7% apresentavam DM. Desses, 46.9% tinham DAC isolada, 31,1% tinham DAP e 22% dos diabéticos apresentavam ambas. Os pacientes com diabetes e doença aterotrombótica combinada foram mais idosos (67.8 ± 8.8 vs. 67.4 ± 9.8 vs. 65.8 ± 9.7, p = 0.01) e do sexo masculino (69.3% vs. 57.4% vs. 66.6%, p = 0.01) em comparação aqueles com DAP ou DAC isolada, respectivamente. Também apresentaram maior frequência de hipertensão, dislipidemia, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e receberam mais frequentemente terapias de prevenção secundária para eventos cardiovasculares do que os grupos comparados. Em comparação ao grupo de pacientes com DAP e DAC, em um ano de seguimento, a taxa de mortalidade foi significativamente maior no grupo de pacientes com DM e doença combinada (17% vs. 14.5% vs. 6.7%, p < 0.001) , entretanto não houve diferença estatisticamente significativa entre as taxas de mortalidade cardiovascular, IAM e AVC.
Conclusão
Pacientes diabéticos com doença aterotrombótica combinada apresentaram características mais graves e maior mortalidade geral, embora não tenha sido observado diferenças significativas nas taxas de eventos cardiovasculares. Esses resultados destacam a necessidade de uma abordagem terapêutica otimizada para este grupo de pacientes.