Fundamento: Estudos propõem a utilização da tomografia computadorizada (TC) pré-operatória para a avaliação de variáveis anatômicas que podem impactar nos tempos cirúrgicos na cirurgia minimamente invasiva da valva aórtica.
Objetivo: Identificar possíveis critérios anatômicos preditores de maior tempo de circulação extracorpórea (CEC) e de anóxia cardíaca (AxC) na cirurgia minimamente invasiva da valva aórtica.
Método: Entre janeiro de 2017 e agosto de 2024 foram operados 59 pacientes com valvopatia aórtica isolada e baixo risco cirúrgico. A escolha entre a mini-esternotomia ou minitoracotomia anterior direita (MAD) foi definida pela posição da aorta em relação à borda esternal direita ao nível da bifurcação da artéria pulmonar no corte transversal da TC de tórax. Foram avaliados os tempos de CEC e anóxia cardíaca, os desfechos de pós-operatório imediato e as seguintes variáveis anatômicas: profundidade, diâmetro do anel aórtico, ângulo esterno-aorta, diâmetro da aorta ascendente e ângulo do plano valvar aórtico. Para avaliar a relação entre os tempos de CEC e AxC e cada uma das variáveis anatômicas, foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson. Em seguida foi ajustado um modelo de regressão linear múltiplo para avaliar o impacto de cada variável anatômica nos tempos de CEC e AxC.
Resultados: Não houve mortalidade e foi baixa a incidência de complicações pós-operatórias, sem diferenças com significância estatística entre as vias de acesso. Os tempos de CEC e AxC (p<0,001) foram maiores no grupo de pacientes submetidos à MAD. Em relação às variáveis anatômicas, a profundidade da aorta e o diâmetro do anel aórtico tiveram impacto no tempo de CEC. Verificou-se que, quando a profundidade aumenta em 1 mm, é esperado um acréscimo médio no tempo de CEC estimado em 0,70 ± 0,25 minutos (IC95%: 0,21; 1,19; p=0,006) com impacto semelhante em ambas as vias de acesso. No entanto, o impacto do diâmetro do anel aórtico no tempo de CEC apresentou comportamento distinto entre as vias de acesso, tendo correlação negativa e maior repercussão quando utilizada a MAD (p=0,037), diferença observada em ânulos aórticos inferiores a 26mm (p=0,046).
Conclusão: Apesar do maior tempo na MAD, não houve impacto na mortalidade e nos desfechos pós-operatórios. A profundidade da aorta teve impacto no tempo de CEC de maneira semelhante entre ambas as vias de acesso. No entanto, anéis aórticos com diâmetros inferiores a 26mm correlacionaram-se com maior impacto no tempo de CEC na MAD.