Introdução: Estudos prévios sugerem que a apneia obstrutiva do sono (AOS) está associada à prejuízos na qualidade do sono em parceiros que dormem na mesma cama (PARTNERS). No entanto, não se sabe se a AOS e seu tratamento podem ter impacto nos parâmetros cardiovasculares nos PARTNERS.
Métodos: Neste estudo controlado por placebo, pacientes com AOS moderada/grave que tinham PARTNERS foram randomizados para receberem a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) ou placebo (dilatador nasal). No início do estudo e após 3 meses de acompanhamento, os PARTNERS passaram por uma avaliação clínica, questionários de sono, avaliação objetiva do sono com a actígrafia por 1 semana, função endotelial (dilatação mediada por fluxo, FMD) e monitorização ambulatorial da pressão arterial (PA) (MAPA) de 24 horas. Desfecho primário: função endotelial; desfechos secundários: MAPA e parâmetros do sono.
Resultados: Após randomizar 63 pacientes com AOS, igual número de PARTNERS foram incluídos na análise final (idade: 48±10 anos; 79% mulheres; 24% com AOS). No início do estudo, notamos um comprometimento significativo da função endotelial (FMD: 3,2% [-0,1,6,7]) e 50% exibiram alterações no descenso noturno da PA. Os PARTNERS também apresentaram aumento da latência do sono (38,2±26,5 minutos), sinais de fragmentação do sono (34,1±11,0 despertares) e má qualidade do sono (63%). As adesões médias do CPAP e dilatador nasal foram de 5,7±1,78 h/noite e 93,1±12,6%, respectivamente. Comparado ao placebo, 3 meses de CPAP não promoveram diferenças significativas na FMD (Δ:-0,94% [6,03,2,24] vs. Δ:-3,27% [-6,50,1,76], P=0,67). No entanto, os dados do ABPM revelaram diferenças significativas na PA sistólica de 24 horas (CPAP: -0,9±5,2mmHg; placebo: +3,1±8,0mmHg; P=0,03) e na PA sistólica diurna (CPAP: -1,2±5,5mmHg; placebo: +3,8±8,8mmHg; P=0,01). Comparado ao placebo, o CPAP melhorou significativamente a qualidade do sono (P=0,02), reduziu a sonolência diurna excessiva (P=0,01) e mostrou melhoras nos índices de fragmentação de sono dos PARTNERS: tempo de despertar após o início do sono (Δ:+7,4±17,5 vs. Δ:-4,7±20,2min, respectivamente, P=0,002); número de despertares (Δ:+2,8±9,1 vs. Δ:-1,0±9,4, respectivamente, P=0,02). Todos os resultados dos desfechos primário e secundários foram consistentes após a exclusão de PARTNERS com AOS.
Conclusões: Três meses de CPAP em pacientes com AOS moderada/grave, não promoveram melhora significativa na função endotelial nos PARTNERS, mas evitaram o aumento da PA em paralelo às melhorias significantes na qualidade e na fragmentação do sono.