Introdução: A esquistossomose é uma doença tropical negligenciada, com limitado número de casos e incidência em locais sem infraestrutura. É transmitida pela penetração de larvas de Schistosoma na pele. Pode levar a complicações cardiovasculares como isquemia do miocárdio, disfunção ventricular, miocardite, hipertensão pulmonar (HP) e pericardite.
Relato: Paciente do sexo masculino, 27 anos, previamente hígido, natural de Arapiraca/Alagoas, admitido com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca perfil B, predominante a direita com edema periférico, turgência jugular, ascite, hepatomegalia e refluxo hepatojugular. Início dos sintomas há 6 meses. Coletado peptídeo natriurético tipo B (BNP) 3523, eletrocardiograma com alterações inespecíficas de repolarização, ecocardiograma transtorácico (ECO TT) com evidência de disfunção biventricular e HP. Optado por realização de ressonância cardíaca com evidência de dilatação de câmaras esquerdas e direitas, disfunção biventricular importante – função ventricular esquerda (FEVE) 18%, com realce tardio de padrão não coronariano mesocárdico septal basal, sem sinais de edema miocárdico (sugerindo miocardite prévia). Paciente negava pródromos infecciosos, antecedentes familiares de miocardiopatias e abuso de substâncias lícitas e ilícitas. Chagas negativo. Referia contato prévio com caramujos em lagoa que se banhava. Endoscopia digestiva alta sem varizes esofágicas, tomografia computadorizada de tórax e abdome com sinais de broncopatia e derrame pleural bilateral, fígado de dimensões aumentadas e ascite moderada. Pesquisa de anticorpos IgM por imunofluorescência indireta para esquistossomose com resultado reagente. Feito praziquantel (PZQ) e iniciado terapias modificadoras de insuficiência cardíaca em doses máximas preconizadas. Evoluiu estável, assintomático, BNP 311, último ECO TT com FEVE 36%, com recuperação de função ventricular direita e sem sinais de HP.
Discussão: Na esquistossomose as manifestações clínicas e o tratamento dependem da fase da doença e os desfechos cardiovasculares são pouco compreendidos. A complicação mais importante é HP, levando a insuficiência cardíaca direita. Há uma lacuna em termos de diagnóstico uma vez que não há método padrão ouro, portanto exposição prévia e passagem em áreas endêmicas deveriam levantar suspeita clínica. Envolvimento cardíaco agudo deve ser tratado com corticosteroide e crônico com PZQ, feito ao longo do curso da doença.
Conclusão: Complicações cardíacas na esquistossomose carecem de mais dados. A elaboração de estratégias de diagnóstico e tratamento são essenciais.