Introdução: As doenças das valvas cardíacas têm prevalência e morbimortalidade elevadas no Brasil. Por vezes o tratamento requer o implante de prótese mecânica ou biológica, que, no entanto, podem apresentar disfunções ao longo do tempo, o que gera custos elevados e consequências clínicas e de prognóstico para os pacientes. O diagnóstico é usualmente clínico e complementado com ecocardiograma.
Objetivo: analisar, numa coorte de pacientes com a primeira prótese em posição mitral os aspectos gerais e diagnósticos das disfunções valvares ocorridas durante o seguimento e os possíveis fatores relacionados.
Método: foi um estudo observacional, retrospectivo, de dados obtidos dos prontuários eletrônicos que incluiu pacientes com prótese mitral biológica (PB) ou mecânica (PM), de ambos os sexos, com mais de 18 anos de idade no momento da análise e em seguimento ambulatorial regular. Foram analisados aspectos antropométricos, tipo e tempo de prótese, comorbidades e aspectos das próteses ao ecocardiograma. Os dados foram analisados com estatística descritiva e testes comparativos; significante se p<0,05.
Resultados: até dezembro de 2024 foram incluídos 93 pacientes, 66 (70,9%) mulheres; 56,6 ± 10,8 anos; 55 pacientes (59,1%) tinham PB e 38 tinham PM. A disfunção de prótese ocorreu em 48 pacientes; 43 com PB (78,2%) e 5 (13%) com PM (p<0,00001); 26 tiveram insuficiência, 18 estenose e 4, dupla disfunção; disfunção foi importante em 24 e moderada em 17. A disfunção das PB ocorreu antes das PM (8,0 x 13,5 anos; p=0,037); 38% entre 5 e 10 anos e, em 31%, entre 10 e 15 anos; as causas mais comuns foram calcificação em 17, rotura em 9 e perivalvar em 8; entre as mecânicas 1 foi entre 10 e 15 anos e 4 depois de 15 anos e as causas foram trombose em 1, “pannus” em 2 e perivalvar em 2. O gradiente médio (9,0 x 5,0 mmHg; p=0,0035) e a pressão sistólica pulmonar (38 x 33 mmHg; p=0,025) foram maiores nas com disfunção. No geral, a idade na época do implante, o sexo, a etnia e as comorbidades isoladamente não se associaram com disfunção. A idade das mulheres com disfunção de PB à época da cirurgia foi menor que a das sem disfunção (39,3 x 48,5 anos; p=0,022).
Conclusão: a disfunção das PB foi mais frequente e precoce que as de PM e com maior ocorrência entre 5 e 15 anos após o implante. A disfunção de PB associou-se com mulheres mais jovens à época do implante.