Introdução: O Infarto Agudo do Miocárdio com Artérias Coronárias Não Obstrutivas (MINOCA) é caracterizado por danos no miocárdio sem obstruções ateroscleróticas significativas nas artérias coronárias. O tamoxifeno, usado no tratamento de câncer de mama, pode ser um fator trombótico, favorecendo eventos cardiovasculares. Relatamos o caso de uma paciente com histórico de câncer de mama, em uso de tamoxifeno, que desenvolveu MINOCA com trombo na artéria descendente anterior (ADA).
Metodologia:Estudo descritivo, tipo relato de caso, baseado em informações de prontuário.
Resultados:Paciente feminina, 77 anos, com hipertensão, hipotireoidismo, dislipidemia, pré-diabetes, ex-tabagista e câncer de mama em 2014, tratado com quadrantectomia, quimioterapia, radioterapia e esvaziamento axilar. Em uso de levotiroxina, losartana, hidroclorotiazida, atenolol, tamoxifeno e sinvastatina, com adesão irregular de AAS. Em 14/02/2025, a paciente procurou o pronto-socorro com dor torácica irradiada para o braço direito. O diagnóstico inicial foi IAMSSST, iniciando-se AAS e clopidogrel. No cateterismo, sem doença aterosclerótica significativa, notou-se trombo na ADA, com embolização distal (Figura 1). Realizou-se angioplastia com balão e tromboaspiração (Figura 2), bem-sucedidos, mas persistindo a embolização (Figura 3), iniciando-se tirofibana.
Figura 1.
Figura 2.
Figura 3.
Em ecocardiograma realizado em 15/02/2025, houve redução da fração de ejeção de 64% para 41%, indicando perda de função ventricular. A paciente evoluiu de modo estável, tendo alta com orientações para reabilitação cardiopulmonar e seguimento ambulatorial.
Discussão: O diagnóstico de MINOCA é desafiador pela ausência de obstruções coronárias. O trombo na ADA sugere infarto trombótico, possivelmente relacionado ao tamoxifeno, que pode predispor à trombose, além de fatores como hipertensão, dislipidemia e adesão irregular ao AAS. A redução da fração de ejeção de 64% para 41% destaca o impacto do infarto na função ventricular, sendo essencial o monitoramento para prevenir insuficiência cardíaca.
Conclusão:Este caso destaca a complexidade do diagnóstico e manejo do MINOCA, especialmente em pacientes com múltiplos fatores de risco e uso de tamoxifeno. A angioplastia, tromboaspiração e tirofibana permitiram reperfusão, mas a perda da fração de ejeção evidencia a necessidade de acompanhamento. A relação entre tamoxifeno e risco cardiovascular sublinha a importância de monitorar pacientes com câncer de mama em tratamento hormonal para minimizar o risco trombótico.