Introdução: O Escore de Cálcio Valvar (ECV) é amplamente utilizado na avaliação da gravidade da Estenose Aórtica (EA), especialmente em casos de EA baixo-fluxo, baixo-gradiente (BFBG) e dúvida diagnóstica. Valores acima de 1300UA nas mulheres e 2000UA nos homens correlacionam-se com EA importante. No entanto, o ECV não considera a distribuição do cálcio nem o tamanho da área do anel aórtico (AA), o que pode levar a erros. A Densidade de Cálcio Valvar (DCV), uma medida que relaciona o ECV com a AA (ECV[UA]/AA[cm²]), tem sido proposta como uma alternativa, com bons resultados mas poucos estudos sobre sua aplicação. O objetivo do estudo é avaliar os valores e a correlação entre ECV e DCV com a gravidade da EA em uma população brasileira. Métodos: Estudo unicêntrico, retrospectivo, 587 pacientes consecutivos com EA importante (451), moderada (71) e BFBG (65). Todos foram submetidos a ecocardiograma e angiotomografia de aorta com diferença máxima de 12 meses. Resultados: A mediana de idade foi 79 (73-83) anos, maioria do sexo feminino (50,6%). A superfície corpórea foi 1,74 (1,59-1,88)m². No ecocardiograma, a fração de ejeção foi 61 (55-66)%, enquanto a área valvar aórtica 0,7 (0,6-0,9)cm², e, quando indexada, 0,41 (0,35-0,50)cm²/m². Na tomografia, a AA foi 4,48 (3,92-5,1)cm². Estratificado pelo tipo de EA, nas mulheres, o ECV foi 1701 (862-2267)UA nas moderadas, 2705 (1928-3886)UA nas importantes e 1678 (1133-2235)UA nas BFBG. Nos homens, foi 1953 (1592-2974)UA nas moderadas, 4128 (2910-5958)UA nas importantes e 2238 (1861-3384)UA nas BFBG, com padrões condizentes com a literatura. Pelo tipo de EA, nas mulheres, a DCV foi de 431 (245-594)UA/cm² nas moderadas, 677 (503-970)UA/cm² nas importantes e 398 (281-570)UA/cm² nas BFBG. Nos homens, foi 413 (366-656)UA/cm² nas moderadas, 826 (624-1152)UA/cm² nas importantes e 465 (373-644)UA/cm² nas BFBG. Na análise multivariada, a DCV, e não o ECV, mostrou-se como um fator independente e constante nos diferentes modelos associado à gravidade da EA, conforme o gradiente médio ventrículo esquerdo-aorta (Figura 1). Conclusão: Na avaliação da gravidade da EA, a DCV apresentou uma correlação mais forte e consistente com a gravidade em comparação com o ECV. Sugere-se que a DCV pode ser uma ferramenta mais precisa e robusta nessa avaliação, com implicações no diagnóstico e tratamento, particularmente em casos complexos como BFBG. A variação dos valores entre homens e mulheres reforça a importância de considerar as especificidades populacionais na prática clínica.