Introdução: As doenças cardiovasculares permanecem a principal causa de mortalidade em ambos os sexos. Embora as diferenças de gênero na doença arterial coronariana (DAC) sejam amplamente reconhecidas, os desfechos após a síndrome coronariana aguda (SCA) continuam a apresentar resultados conflitantes na literatura. O presente estudo tem como objetivo avaliar a abordagem diagnóstica da dor torácica em homens e mulheres, considerando apresentações típicas e atípicas, bem como os desfechos intra-hospitalares em um departamento de emergência. Métodos: Foi conduzido um estudo de coorte retrospectivo com pacientes atendidos por dor torácica no departamento de emergência ao longo do ano de 2023. Os participantes foram classificados, segundo o sexo, em dois grupos: dor torácica de provável origem cardíaca (típica) e dor torácica de provável origem não cardíaca (atípica). Foram comparados fatores de risco cardiovasculares, exames diagnósticos realizados e a ocorrência de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE). Resultados: O estudo incluiu 19.675 pacientes, dos quais 2.840 (14,4%) apresentaram dor torácica típica e 16.835 (85,6%) dor torácica atípica. As mulheres demonstraram menor prevalência de fatores de risco tradicionais para DAC. Entre os pacientes com dor torácica típica, não houve diferença significativa no diagnóstico de SCA entre os sexos (p = 0,3). No entanto, os homens foram submetidos com maior frequência à angiografia coronariana (p < 0,001) e à angioplastia em ambos os grupos. A incidência de MACE durante a hospitalização foi semelhante entre os sexos; contudo, a mortalidade cardiovascular foi superior entre as mulheres. Conclusão: Os achados deste estudo indicam que, mesmo em pacientes com dor torácica típica e diagnóstico semelhante, persistem disparidades de gênero na abordagem diagnóstica e nos desfechos clínicos. As mulheres apresentaram pior prognóstico intra-hospitalar, apesar da menor prevalência de fatores de risco cardiovasculares tradicionais. Esses resultados ressaltam a necessidade de maior conscientização sobre as diferenças de gênero na avaliação da dor torácica e sugerem a importância de uma possível revisão das diretrizes clínicas para assegurar equidade no diagnóstico e no manejo de pacientes.