INTRODUÇÃO: Apesar dos avanços terapêuticos, pacientes com doença renal crônica (DRC) ainda apresentam risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE). Dados contemporâneos nacionais são escassos sobre o manejo terapêutico e o impacto da função renal no risco cardiovascular. O presente estudo avaliou o uso de terapias para proteção renal e cardiovascular, e também a incidência de MACE em pacientes com DRC. MÉTODOS: O estudo Registro Network to Control Atherothrombosis (NEAT), realizado nas 5 regiões do Brasil, acompanhou 1422 pacientes com doença arterial coronariana (DAC) e doença arterial periférica (DAP) entre 2020 e 2022. Foram coletados dados clínicos, laboratoriais, medicações em uso e eventos cardiovasculares durante o seguimento. O desfecho primário foi a ocorrência de MACE em um ano, incluindo infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, revascularização e mortalidade cardiovascular. RESULTADOS: Pacientes com CrCl < 30 ml/min eram mais idosos, do sexo masculino, e apresentavam maior prevalência de hipertensão, insuficiência cardíaca e fibrilação atrial. A prática de atividade física foi menos comum entre aqueles com pior função renal. O uso de terapias cardio e nefroprotetoras variou conforme a função renal. Pacientes com DRC avançada receberam menos IECA/BRA e iSGLT2. A mortalidade global foi de 25,3% nos pacientes com CrCl < 30 ml/min e de 7,1% naqueles com CrCl ≥ 60 ml/min, com predominância de causas cardiovasculares. No seguimento, a taxa de hospitalização e mortalidade aumentou conforme piora da função renal (Figura 1). Dentre os eventos cardiovasculares, insuficiência cardíaca do miocárdio foi mais frequente nos pacientes com piores níveis de filtração glomerular, enquanto o infarto agudo do miocárdio foi mais frequente em pacientes com melhor filtração glomerular. O padrão se repetiu para mortes cardiovasculares e não cardiovasculares. CONCLUSÃO: A DRC está associada a maior risco cardiovascular, mortalidade e hospitalizações. A alta taxa de eventos cardiovasculares e a baixa prescrição de terapias cardioprotetoras indicam que estratégias preventivas devem ser priorizadas para reduzir complicações cardiovasculares nessa população de alto risco.