Introdução: Há um crescente volume de evidências sobre a importância do eixo cérebro-coração na determinação do prognóstico cardiovascular. O infarto do miocárdio (IM) é frequentemente seguido por depressão, e a presença de emoções negativas está associada a um pior prognóstico. Durante o sono, a fase de movimento rápido dos olhos (REM) tem sido implicada no enfrentamento emocional, e a má qualidade, assim como a curta duração do sono, aumentam o risco de IM. O impacto repentino e significativo sobre o eixo cérebro-coração durante um IM pode influenciar os sonhos, um aspecto que ainda precisa ser estudado.
Métodos: Para explorar a relação entre sonhos e prognóstico após IM, coletamos relatos de sonhos de pacientes dentro de 48 horas após os primeiros sintomas de IM. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) registrada em Holter de 24 horas (SDANN, SDNNI (index), RMSSD, SDNN e pNN50 e os dados de heterogeneidade da onda T (TWH) no ECG foram utilizados como marcadores substitutos para estimar o pior prognóstico. Os relatos de sonhos foram analisados quantitativamente por meio de análises semânticas em sonhos com conteúdos positivos ou negativos. Figura.
Resultados: Coletamos 35 relatos de sonhos de 21 pacientes. Foi encontrada uma correlação negativa significativa entre emoções positivas nos relatos de sonhos e os parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca (VFC), especificamente com RMSSD de 24 horas e noturno (R = -0,36; p = 0,027; R = -0,41; p = 0,0099, respectivamente), SDNN de 24 horas e noturno (R = -0,43; p = 0,0071; R = -0,32; p = 0,043, respectivamente), SDANN de 24 horas (R = -0,41; p = 0,0093) e SDNNI de 24 horas e noturno (R = -0,32; p = 0,046; R = -0,35; p = 0,027, respectivamente)
Conclusão: Pacientes com menor VFC, indicando pior prognóstico, relataram uma maior frequência de emoções positivas em seus sonhos em comparação com aqueles com maior VFC. Especulamos que a experiência de sonhos positivos pode servir como um mecanismo psicológico de enfrentamento para pacientes de alto risco após um evento cardíaco adverso.