Introdução: A dengue é uma doença viral endêmica em regiões tropicais e o Brasil lidera a estatística com 2,9 milhões de casos em 2023 (58% dos casos registrados no mundo). Em 80% dos casos os pacientes são assintomáticos ou possuem sintomas leves, no entanto, podem evoluir para complicações graves, caracterizadas pelo extravasamento de plasma para o interstício, hemorragias e disfunções orgânicas graves. Objetivo: Relatar um caso de cardiomiopatia de Takotsubo (CTT) complicado por isquemia cerebral (AVC) após dengue. Relato de Caso: Paciente do sexo feminino, 65 anos, admitida com choque circulatório, provável etiologia infecciosa. Na avaliação foi diagnosticada infecção pelo vírus da dengue, com teste NS1 positivo e plaquetopenia. Ecocardiograma demonstrou acinesia dos segmentos médio e apicais do ventrículo esquerdo (VE), segmentos basais preservados e fração de ejeção do VE (FEVE) de 35%, sugestivo de CTT, o que ficou mais evidente pela ausência de coronariopatia no cateterismo (fig. 1). No 6º dia de internação, havia melhora hemodinâmica após fluidoterapia, porém com rebaixamento do nível de consciência, perda de força motora generalizada, sem déficits focais. Tomografia de crânio demonstrou focos de reduzida atenuação parenquimatosa com insulto isquêmico occipital e, clinicamente classificada como AVC NIHSS 3. Evoluiu bem, em anticoagulação plena, recebendo alta no 8º dia com função cardíaca praticamente recuperada no eco transesofágico (FEVE 57% sem trombo, sem “shunt”) e com realce tardio mesocárdico na ressonância magnética, em regiões apicais, compatíveis com CTT (fig. 2) e esta como possível fonte cardioembólica causadora do AVC. Tanto a vasculite sistêmica, caracterizada por disfunção endotelial e alterações na permeabilidade vascular, quanto a lesão cardíaca por necrose e inflamação do miocárdio podem contribuir para o aparecimento de manifestações cardiovasculares na dengue. Conclusão: O comprometimento cardíaco é uma complicação potencialmente grave da dengue, com implicações prognósticas significativas como edema pulmonar e choque cardiogênico decorrentes da miocardite e disfunção do VE. Dada sua alta prevalência nas unidades de emergência, a vigilância clínica e a investigação de marcadores bioquímicos e de imagem são essenciais para a detecção precoce e o manejo adequado desses pacientes.