A patência da falsa luz exerce um papel significativo no prognóstico de longo prazo da dissecção aórtica. Estudos demonstram que a trombose completa da mesma está associada a um remodelamento positivo em 90% dos pacientes após o reparo endovascular, mas a trombose espontânea é rara. Para que isso ocorra, a ausência de fluxo sanguíneo persistente é fundamental. Nesse contexto, características adicionais, como a presença de reentradas distais, podem interferir negativamente nesse processo, influenciando diretamente a evolução da doença.
Mulher de 68 anos, tabagista e hipertensa, apresentou dor torácica atípica e dispneia aos esforços. Em 2018, ecocardiograma demonstrou presença de flap intimal na aorta abdominal com fluxo na falsa luz. A angiotomografia revelou dissecção iniciando-se ao nível do terço médio da aorta descendente até a artéria mesentérica superior, com diâmetro máximo de 36 x 35 mm e ausência de orifícios de reentrada distais. Após diagnóstico de dissecção aórtica Stanford B, foi mantida em tratamento conservador. Em 2022, angiotomografia já demonstrava trombose parcial da falsa luz (figura 1). Em 2024, apresentava evidência de trombose completa e reabsorção da falsa luz, com remodelamento positivo e diâmetro aórtico máximo de 26 x 26 mm (figura 2).
A ausência de orifícios de reentrada neste caso foi determinante para o desenvolvimento da trombose espontânea e remodelamento da falsa luz, favorecendo a redução do diâmetro aórtico e estabilização da dissecção ao longo dos anos. Esse achado destaca a importância da trombose da falsa luz como um marcador prognóstico positivo, com papel crucial na prevenção de complicações e no remodelamento aórtico favorável, e a presença ou ausência de orifícios de reentrada são os principais determinantes desta evolução.