A cardiomiopatia induzida por estresse, conhecida como Cardiomiopatia de Takotsubo (CT), é uma forma de cardiomiopatia reversível e não isquêmica desencadeada por eventos estressores. O mecanismo não é completamente compreendido. A Doença de Graves (DG) é uma doença autoimune que causa hipertireoidismo, condição caracterizada por maior produção e liberação de hormônios tireoidianos os quais podem deflagrar estresse cardiovascular por elevação das catecolaminas circulantes, e assim afetar a função cardíaca. Neste relato, apresentamos um caso singular de CT como manifestação clínica principal e inicial da DG.
Relato de caso: MLPS, 61 anos, sem comorbidades prévias, iniciou quadro de precordialgia súbita associada a palpitações. Procurou pronto socorro que diagnosticou infarto agudo do miocárdio, encaminhado ao serviço cardiológico para estratificação invasiva. Na admissão, notado paciente subfebril, leve taquicardia sinusal e laboratório com TSH <0,008 e T4L 3,68 (até 1,48 mg/dL). Encaminhado ao cateterismo cardíaco que demonstrou ausência de lesões obstrutivas nas artérias epicárdicas e balonamento apical do ventrículo esquerdo na sístole da ventriculografia. Ecocardiograma revelando disfunção sistólica de ventrículo esquerdo com fração de ejeção de 35% às custas de acinesia da região apical e hipocinesia da parede inferior. Devido ao distúrbio tireoidiano, fez-se ultrassonografia mostrando sinais de tireoidite e TRAb 1,78 (até 0,55 IU/L). Em conjunto com endocrinologia, diagnosticado a DG e iniciado Tapazol 20mg/dia. Assim aventado a hipótese da CT como apresentação clínica do quadro inicial da DG.
Discussão: A CT, hoje, chega a representar até 6% do diagnóstico de mulheres que foram atendidas sob hipótese de síndrome coronariana aguda. Embora classicamente associada a estressores físicos e/ou mentais, quase um terço dos casos não têm gatilho evidente o que, associado a fisiopatologia pouco elucidada, abre possibilidade para novas hipóteses etiopatogênicas. No caso relatado, a concomitância CT e DG permite a hipotetização de causa dessa para aquela dada plausibilidade mecanicística (pela sensibilização adrenorreceptores no miocárdio apical promovida por hormônios tireoidianos) e relatos de casos na literatura. Ainda se carece de boas evidências para guiar o tratamento da CT, sendo, hoje, fundamentalmente um tratamento de suporte. De modo igual, também não há evidências sobre a melhor maneira de conduzir a DG quando coexistente com CT. Usualmente, inicia-se o tratamento anti-tireoidiano, embora não se possa concluir na melhoria de ambas as condições.