Introdução:
A Síndrome de Eisenmenger (SE) ocorre em pacientes com cardiopatias congênitas que desenvolvem lesão vascular pulmonar irreversível devido à hipertensão arterial pulmonar (HAP) severa, em resposta ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar. Quando a resistência vascular pulmonar supera a resistência sistêmica, ocorre a reversão do shunt, resultando em hipoxemia e cianose. As comunicações interatriais (CIA) representam 30-40% das cardiopatias congênitas em adultos, e a SE é observada em 5-10% dos pacientes com CIA não reparada. A SE leva a uma diminuição da qualidade de vida e risco de morte elevado. Pacientes com SE apresentam estratificação de risco cirúrgico elevado, sendo necessárias considerações sobre comorbidades.
Relato do Caso:
Paciente feminina, 66 anos, com CIA ostium secundum (OS) não operada e SE há 15 anos (pressão média do tronco da pulmonar de 38 mmHg em cateterismo direito no diagnóstico, fluxo bidirecional pela CIA OS de 28 mm em ecocardiograma transtorácico e radiografia de tórax, vide foto 1), em uso de vasodilatadores pulmonares e varfarina. Após 6 meses de tratamento otimizado, a paciente apresentou sangramento vaginal importante, levando à suspensão do anticoagulante e investigação, que resultou no diagnóstico de adenocarcinoma de endométrio, confirmado por biópsia. A princípio, a histerectomia total seria o padrão-ouro para tratamento. Realizou-se estratificação de risco, sendo classificada como alto risco cardiovascular associado a comorbidades significativas: diabetes, tromboembolismo pulmonar crônico e dislipidemia. Cateterismo cardíaco revelou lesão no tronco da coronária esquerda (TCE), devido à compressão extrínseca pelo tronco pulmonar. A radioterapia foi indicada, sem sucesso. Como alternativa, foi realizada embolização das artérias uterinas, procedimento escolhido devido ao alto risco cirúrgico da paciente. A embolização foi realizada com sucesso e sem intercorrências.
Discussão:
O aumento da sobrevida dos pacientes com SE trouxe consigo um desafio: o manejo da multimorbidade em pacientes particularmente frágeis. Neste caso, a paciente necessitava de anticoagulação crônica, em virtude de trombose pulmonar crônica e SE. A lesão do TCE, neste caso, foi manejada clinicamente, pois a paciente era assintomática nesse sentido. A angioplastia seria indicada em casos de isquemia comprovada. É importante a decisão multidisciplinar e a realização de tratamento individualizado.