Introdução: O acidente vascular cerebral é a segunda maior causa de mortalidade e a terceira de incapacidade no mundo. Em sua forma isquêmica, pode se manifestar como infarto cerebral hemisférico, chamado maciço ou maligno, com taxa de mortalidade de até 78%. Nestes casos, o edema cerebral pode gerar efeito de massa e herniação do lobo temporal sobre o tronco encefálico, desencadeando disautonomias. Como manifestações do quadro, inclui-se a hipertensão arterial, alterações do padrão respiratório e arritmias graves, incluindo bloqueios avançados com necessidade de terapia de suporte. Método: Relato de caso com base em informações retiradas de prontuário eletrônico, de paciente atendido no departamento de emergência de um hospital terciário. Caso: Paciente masculino, 71 anos, admitido em hospital terciário por quadro de disartria iniciada há oito horas, associada a insuficiência respiratória com necessidade de intubação orotraqueal. Tomografia de crânio da admissão evidencia extenso comprometimento de córtex e substância branca dos lobos temporal, insular, frontal, parietal e occipital esquerdos, colapso do ventrículo lateral esquerdo e apagamento dos sulcos corticais, compatível com insulto vascular isquêmico agudo (ASPECTS 0). Ainda à admissão, eletrocardiograma demonstra bradicardia sinusal. Após uma hora, o paciente evolui com bloqueio atrioventricular de segundo grau do tipo 2:1, progredindo para bloqueio atrioventricular total e indicação de marcapasso transvenoso. Avaliado pela equipe de neurologia e considerado não apto a trombólise ou trombectomia, conforme protocolo hospitalar. Equipe de neurocirurgia descarta viabilidade de abordagem cirúrgica, diante da extensão das lesões e tempo de evolução. Estabelecidas medidas de neuroproteção. Paciente evolui a óbito três dias após a admissão. Discussão: A disfunção autonômica cardiovascular manifesta-se principalmente por aumento da atividade simpática, mas também por anormalidades do sistema nervoso parassimpático e ocorre principalmente na fase aguda do evento cerebral isquêmico. A perturbação do eixo coração-cérebro pode resultar em alterações da frequência cardíaca em 20% dos casos; esses distúrbios aumentam a chance de desfechos desfavoráveis, tanto em mortalidade, como em morbidade. Neste caso, fica documentada a progressão de uma bradiarritmia, de sinusal a bloqueio atrioventricular total, secundária à disautonomia por isquemia cerebral extensa.