Introdução:
A elevação dos níveis plasmáticos de homocisteína (hiperhomocisteinemia) pode ocorrer por fatores hereditários ou adquiridos, sendo considerada um fator de risco independente para eventos cardiovasculares em decorrência de seu efeito aterogênico e pró-trombótico.
Descrição do caso:
Mulher de 55 anos, sem fatores de risco conhecidos ou antecedentes relevantes prévios, admitida na emergência com quadro de dor torácica em aperto/queimação de forte intensidade, irradiada para mandíbula, com episódios recorrentes iniciados há 20 dias. Realizado Eletrocardiograma (ECG), no qual foi identificado infradesnivelamento de segmento ST em precordiais, e curva ascendente de troponina I (92,4 -> 338,3 -> 1955 ng/L). Foi conduzida como infarto agudo do miocárdio (IAM) sem supra de ST conforme diretrizes e encaminhada para cateterismo cardíaco, o qual demonstrou ausência de coronariopatia obstrutiva (figura 1A). Recebeu alta, após 5 dias, estável e assintomática para realização de ressonância cardíaca e acompanhamento ambulatorial.
Uma semana após, a paciente voltou a procurar serviço referindo novo episódio de dor precordial, evoluindo na sala de emergência com parada cardiorrespiratória (PCR) em fibrilação ventricular, tratada e revertida após manobras de ressuscitação e desfibrilação. ECG pós PCR evidenciou bloqueio de ramo direito novo e padrão plus/minus de onda T em V2 e V3. Encaminhada para novo cateterismo, que evidenciou oclusão ostial da artéria descendente anterior (DA), e realizada angioplastia com stent na DA com sucesso (figuras 1B e 1C). Paciente permaneceu estável, recebendo alta hospitalar e encaminhada para seguimento no ambulatório de cardiologia.
Ambulatorialmente, em estudo para trombofilias, constatou-se hiperhomocisteinemia (16,4 µmol/L) e nos meses subsequentes outros casos de IAM em familiares de primeiro grau (irmãos entre 40 e 50 anos, saudáveis previamente). Após um ano, a paciente encontra-se estável, em tratamento com clopidogrel, rivaroxabana, rosuvastatina, carvedilol, enalapril, espironolactona, complexo vitamínico incluindo vitaminas B6, B12 e ácido fólico.
Discussão/Conclusão
Na ausência de fatores de risco clássicos em pacientes com doença coronariana, a hiperhomocisteinemia deve ser pesquisada como possível causa aterotrombótica. Além do tratamento padrão da aterosclerose, a suplementação de vitaminas B6, B12 e ácido fólico ajudam a atividade da enzima que metaboliza a homocisteína reduzindo seus níveis plasmáticos.