Introdução: A Titina é a maior proteína do corpo humano com mais de 30.000 aminoácidos. Variantes patogênicas no seu gene codificador, o TTN, causam diversas alterações cardiovasculares e neuromusculares. As variantes truncadas do TTN (TTNtv) foram consideradas a causa genética mais comum de Cardiomiopatia Dilatada podendo corresponder, segundo à Sociedade Brasileira de Cardiologia, a 25% e 18% dos casos familiares e esporádicos, respectivamente.
Relato: Mulher, 38 anos, deu entrada em emergência em março de 2022 com quadro de dispneia aos pequenos esforços, queda da saturação de oxigênio, fala entrecortada e edema de membros inferiores. Concomitante ao descarte de outras causas, realizou Ecocardiograma Transtorácico (ECOTT) que demonstrou disfunção sistólica com Fração de Ejeção do Ventriculo Esquerdo (FEVE) de 17% às custas de hipocinesia difusa do Ventrículo Esquerdo (VE), Hipertrofia excêntrica do VE e Disfunção diastólica de grau I. Por histórico prévio de infecção por COVID-19 em 2020 e 2021, suspeitou-se de Insuficiência Cardíaca de Fração de Ejeção reduzida secundária à miocardite viral. Ainda na internação, iniciou tratamento medicamentoso otimizado e foi encaminhada, na alta, para o ambulatório de Insuficiência Cardíaca para investigação etiológica. A Ressonância Magnética de Coração descartou sinais sugestivos de injúria inflamatória (miocardite) e detectou cardiomiopatia dilatada (CMD) importante. Paciente foi então encaminhada ao ambulatório de Cardiogenética sendo realizado exoma que demonstrou variante de significado indeterminado no TTN (c.45089_45091del, p.Glu15030del) em heterozigose.
Discussão: Após discussão clínica, rastreamento de parentes de primeiro grau e seguimento ambulatorial, apesar da classificação conforme ACMG incerta, aguarda-se resultados de familiares para reclassificação. Vale ressaltar que a CMD por variantes em TTN possui boa resposta terapêutica com relação ao remodelamento reverso, fato que ocorreu com a paciente que atualmente encontra-se com FEVE de 65% após início de tratamento e continuidade do mesmo.
Conclusão: A idade é um fator importante para o desenvolvimento das cardiomiopatias. Em uma coorte avaliada com variantes TTNtv, por exemplo, a penetrância aos 40 anos de idade foi acima de 95%. Portanto, a identificação de um familiar com genótipo positivo e fenótipo negativo requer avaliação seriada, principalmente enquanto estiver na idade de maior risco de desenvolver as alterações fenotípicas, visando o tratamento precoce.