Introdução
A calcificação do anel mitral (MAC) é um processo crônico e degenerativo, podendo causar tanto estenose como regurgitação valvar. Em sua maioria, é identificada por exames de imagem em pacientes assintomáticos, porém em formas mais avançadas, pode gerar sintomas. É mais prevalente em indivíduos idosos, multicomórbidos. Este relato descreve um caso de paciente com dupla lesão mitral por MAC, cursando com sintomas, internação hospitalar e dificuldade de manejo devido ao limitado arsenal terapêutico pelas peculiaridades dessa patologia.
Relato de Caso
Paciente do sexo feminino de 85 anos, histórico de TAVI transfemoral em 2022, portadora de Alzheimer e hipertensão arterial, interna em contexto de edema agudo de pulmão e fibrilação atrial de alta resposta ventricular. Após compensação, ecocardiograma demonstrou prótese sem disfunção, porém com presença de dupla lesão mitral importante por MAC. Diante do contexto de uma paciente idosa, frágil, além do risco de disjunção átrio-ventricular pela calcificação posterior, a abordagem cirúrgica foi contraindicada. Avaliada então a opção transcateter (valve-in-MAC), contudo, devido à alta chance de embolização da prótese avaliada pelo MAC escore e obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) avaliada pela angiotomografia, essa opção foi descartada, optando-se pelo tratamento clínico.
Discussão
A calcificação costuma acometer mais a porção posterior do anel, o que pode dificultar o tratamento cirúrgico, pois a retirada do cálcio durante a troca valvar pode causar a exposição do sulco átrio-ventricular, levando a disjunção átrio-ventricular, complicação na maioria das vezes fatal. Além disso, pelo perfil dos pacientes ser de maior idade, fragilidade, mais comorbidades, também influencia na dificuldade do tratamento cirúrgico convencional. Em relação à opção percutânea, a principal complicação é a obstrução da VSVE, ocorrendo em até 50% dos casos. Outra temida complicação é a embolização da prótese. Para predizer seu risco, foi proposto um escore que avalia a espessura e distribuição do cálcio, envolvimento do trígono e das cúspides.
Conclusão
Quando um paciente com doença mitral por MAC cursa com sintomas e necessidade de abordagem valvar, muitas vezes é feita a opção por tratamento clínico, pela limitação dos arsenais terapêuticos atuais, o que demonstra a importância da definição da etiologia da valvopatia e desenvolvimento de novas opções de tratamento.
Referências:
Maisano,F., & Taramasso,M.(2018). Mitral valve-in-valve, valve-in-ring, and valve-in-MAC: the Good, the Bad, and the Ugly.