Introdução. A associação entre qualidade da dieta e eventos cardiovasculares recorrentes é um tópico amplamente estudado na epidemiologia nutricional. Embora uma dieta equilibrada seja essencial para a prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares (DCV), há lacunas sobre a eficácia das intervenções dietéticas entre pacientes brasileiros que já vivenciaram eventos cardiovasculares. Para esse propósito, foi criado o Índice de Qualidade da Dieta (IQD), que avalia a adequação da alimentação em relação às recomendações dietéticas e sua associação com desfechos de saúde cardiovascular.
Objetivo. Investigar o impacto da qualidade da dieta sobre a incidência de eventos cardiovasculares recorrentes em indivíduos com diagnóstico prévio de DCV.
Método. Estudo de coorte prospectivo, utilizando dados de participantes brasileiros do Estudo Epidemiológico Prospectivo Urbano e Rural (PURE). A amostra é composta por indivíduos entre 35 e 70 anos, com história de infarto do miocárdio e/ou acidente vascular encefálico, acompanhados por um período médio de seis anos. Foram aplicadas análises univariadas e multivariadas para determinar a associação do IQD com a recorrência de eventos cardiovasculares, utilizando o Índice de Alimentação Saudável Alternativa modificado e o Índice de Risco da Dieta. Modelos de regressão de Cox ajustados para fatores de confusão foram utilizados para avaliar o desfecho primário composto por morte cardiovascular, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca congestiva.
Resultados. A análise mostrou que o risco de evento cardiovascular não fatal foi HR 1,099 (IC 95%: 0,727 - 1,659) para dieta moderadamente saudável e HR 1,018 (IC 95%: 0,663 - 1,563) para dieta saudável. O risco de evento cardiovascular fatal foi HR 1,376 (IC 95%: 0,815 - 2,323) e HR 1,235 (IC 95%: 0,701 - 2,176) para dietas moderadamente saudável e saudável, respectivamente. O risco de óbito por todas as causas foi HR 1,099 (IC 95%: 0,727 - 1,659) e HR 1,018 (IC 95%: 0,663 - 1,563) para os respectivos grupos de dieta.
Conclusão. A qualidade da dieta, isoladamente, pode não constituir um fator determinante para a redução do risco cardiovascular em pacientes com DCV no contexto deste estudo, indicando a necessidade de abordagens multifatoriais na prevenção secundária de eventos cardiovasculares.