Introdução: O infarto agudo do miocárdio (IAM) em indivíduos jovens sem fatores de risco cardiovasculares tradicionais é uma condição rara, porém de incidência crescente. O uso indiscriminado de esteroides anabolizantes tem sido associado nesse cenário a graves complicações cardiovasculares, destacando trombose coronariana, disfunção endotelial e hipercoagulabilidade. Este relato destaca um caso de IAM em um indivíduo jovem com histórico de uso de anabolizantes, ressaltando a importância do reconhecimento precoce de fatores de risco não convencionais.
Relato: Homem, 37 anos, hipertenso em uso regular de enalapril 10 mg/dia, admitido com dor torácica retroesternal intensa, irradiada para membros superiores, de início súbito durante atividade física, associado a diaforese e náuseas. Relatava uso recente de esteroides anabolizantes androgênicos, com última administração ocorrida um mês antes, negando outros fatores de risco tradicionais. O eletrocardiograma (ECG) revelou supradesnivelamento do segmento ST em parede anterior extensa e lateral alta, compatível com IAM com supradesnivelamento de ST. Exames laboratoriais demonstraram elevação significativa de troponina. Foi iniciado protocolo de dor torácica e optado por trombólise com Alteplase, sem critérios de reperfusão. O ecocardiograma evidenciou insuficiência cardíaca com fração de ejeção levemente reduzida (FE 47%), disfunção sistólica leve do ventrículo esquerdo, com hipocinesia do septo e parede anterior. E o estudo angiográfico evidenciou lesão obstrutiva única de 90% na artéria descendente anterior. O paciente foi submetido a angioplastia de resgate com implante de 1 stent farmacológico, com fluxo TIMI 3, evoluindo com resolução completa dos sintomas. Por fim o paciente recebeu anticoagulação e foi mantido em uso de clopidogrel por 1 ano. Após esse período, retomou a prática de atividades físicas regulares, mantendo-se assintomático.
Discussão: O uso de esteroides anabolizantes têm sido associado a eventos cardiovasculares potencialmente fatais por meio de diversos mecanismos, incluindo disfunção endotelial, aumento da reatividade vascular, hipercoagulabilidade e alterações lipídicas. Evidências sugerem que essas substâncias podem precipitar trombose coronariana mesmo na ausência de fatores de risco tradicionais.Neste caso, o tratamento percutâneo da lesão coronariana com extensa carga trombótica foi bem-sucedido, associado a anticoagulação com DOAC. O reconhecimento dessa associação é essencial para aprimorar a estratificação de risco, implementação de tratamento precoce e estratégias preventivas.