Introdução: Endocardite infecciosa (EI) é definida como infecção do endocárdio e acomete mais comumente as valvas cardíacas do lado esquerdo do coração. É uma doença cada vez mais prevalente, está associada a alta morbimortalidade e pode cursar com diversas complicações, tanto cardíacas, como neurológicas, renais, pulmonares, aneurismas micóticos e embolizações sépticas. Dentre as complicações cardíacas, a mais comum é a insuficiência cardíaca, porém também pode ocorrer abscesso perivalvar, bloqueios atrioventriculares, pericardite e, mais raramente, fístulas intracardíacas. Relatamos um caso de paciente com complicação de abscesso perivalvar fistulizado.
Relato de caso: Paciente masculino, 42 anos, com antecedente de uso de drogas, deu entrada no hospital com história de queda da própria altura que resultou em hematoma subdural crônico e abscesso epidural frontotemporal, que foi drenado. Durante internação apresentou dispneia, febre, isquemia do 4° pododáctilo do pé direito e ao exame físico foi auscultado sopro diastólico em foco aórtico, não existente em exame físico da entrada. Feita hipótese diagnóstica de EI e ecocardiograma (eco) transtorácico mostrou insuficiência aórtica importante, imagem sugestiva de vegetação na face ventricular da valva aórtica e imagem sugestiva de abscesso na região mitroaórtica. Realizado eco transesofágico que mostrou valva aórtica bicúspide, presença de neocavidade junto a via de saída do ventrículo direito que se comunicava com a aorta e a via de saída do ventrículo esquerdo, caracterizando uma fístula. Na junção mitroarótica foi vista outra solução de continuidade entre o seio coronariano esquerdo e a via de saída do ventrículo esquerdo. O paciente foi submetido a cirurgia de troca valvar aórtica por prótese biológica e sepultamento das neocavidades e recebeu alta após o término do tratamento com antibióticos.
Discussão: A EI com complicação de abscesso perivalvar tem associação com maior ocorrência de embolizações e mortalidade, porém outras complicações também podem ocorrer: bloqueios atrioventriculares, formação de pseudoaneurismas e, como relatado neste caso, fístulas, encontradas em apenas 1,6% dos casos de EI. O diagnóstico desta complicação é feito por exame de imagem, geralmente o eco transesofágico, e o tratamento é cirúrgico, de urgência.
