Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) descompensada representa uma das principais causas de internação hospitalar, sendo a sobrecarga volêmica um fator determinante na evolução clínica. O manejo da congestão é desafiador, especialmente em pacientes com resistência diurética ao tratamento padrão com diuréticos de alça. A acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica, tem sido estudada como terapia adjuvante para otimizar a diurese e reduzir a morbimortalidade associada à congestão refratária. O presente estudo tem como objetivo avaliar o impacto da acetazolamida na evolução clínica de pacientes internados com IC descompensada e resistência diurética.
Métodos: Estudo retrospectivo observacional realizado em um hospital terciário, analisando prontuários de 91 pacientes internados entre janeiro de 2023 e setembro de 2024 com IC descompensada. Foram comparados dois grupos: pacientes tratados com acetazolamida associada à furosemida (n=38) e pacientes tratados apenas com furosemida e outras estratégias diuréticas (n=53). Foram analisados dados clínicos, laboratoriais, tempo de internação e resposta diurética. Análises estatísticas foram realizadas utilizando testes de Wilcoxon e qui-quadrado, considerando significância estatística para p<0,05.
Resultados: O grupo tratado com acetazolamida apresentou maior gravidade clínica, com maior incidência de sinais de congestão (p<0,001), pior função renal inicial (p=0,043) e necessidade de doses mais elevadas de furosemida (p<0,001). Apesar da maior gravidade, a diurese total não foi significativamente diferente entre os grupos (p=0,24). O tempo de internação foi maior no grupo acetazolamida (p<0,001), possivelmente devido à sua introdução tardia em pacientes mais graves.
Conclusões: A acetazolamida foi utilizada predominantemente em pacientes com resistência diurética e maior gravidade clínica, refletindo um perfil de pior prognóstico. Apesar da ausência de diferença na diurese total, os achados sugerem que a introdução precoce pode ser benéfica no manejo da congestão refratária. Estudos prospectivos e randomizados são necessários para validar essa estratégia terapêutica e definir seu papel na otimização do tratamento da IC descompensada