Introdução: Os esteroides anabólicos-androgênicos (AASs) são derivados da testosterona indicados no tratamento de condições como hipogonadismo e perda muscular. Além desses efeitos, são amplamente utilizados para aumento de força e massa muscular. No entanto, a ativação de receptores androgênicos no coração pode levar à hipertrofia miocárdica, enquanto altas doses de testosterona estão associadas a um estado pró-arrítmico, aumento do risco tromboembólico, disfunção ventricular e aterosclerose coronária. Diante disso, é essencial investigar a relação entre o uso de AASs e doenças cardiovasculares. Métodos: Esta revisão sistemática seguiu a estratégia PICO e as diretrizes PRISMA. A busca foi realizada em dezembro de 2024, considerando estudos transversais, de coorte e caso-controle, publicados nos últimos 10 anos, e resultou em 168 artigos (112 na MEDLINE e 56 na LILACS). Utilizaram-se os descritores “anabolic agents”, “anabolic-androgenic steroids”, “cardiovascular diseases”, “hypertension”, “myocardial infarction”, “atherosclerosis”, “arrhythmias” e “heart failure”. Do total, 8 trabalhos foram considerados elegíveis após triagem. Resultados: Os estudos analisaram diversos impactos do uso de AASs no sistema cardiovascular. Abdullah et al. identificaram que usuários crônicos de AASs apresentaram aumento da massa ventricular esquerda, pior função cardíaca e maior pressão arterial sistólica em comparação aos controles. Já Baggish et al. relataram redução significativa da função sistólica e diastólica, além de maior volume de placas arteriais coronárias. Mathias et al. demonstraram um aumento significativo na incidência de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias e tromboembolismo venoso. Enquanto Baytugan et al. observaram valores mais elevados de QT, QTc, Tp-e, Tp-e/QT e Tp-e/QTc em usuários de AASs, sugerindo um estado pró-arrítmico; e Karagun et al. identificaram um aumento significativo da espessura da íntima-média carotídea em fisiculturistas, correlacionando-se com o tempo de uso de AAS. Por fim, Mubarak et al. relataram níveis elevados de testosterona, prolactina, transaminases hepáticas e colesterol, além de redução dos hormônios luteinizante e folículo-estimulante, indicando um estado metabólico adverso associado. Conclusão: os achados desta revisão sugerem que o uso AASs está fortemente associado a um aumento do risco cardiovascular. Apesar disso, a heterogeneidade metodológica entre os estudos ressalta a necessidade de novas pesquisas com delineamentos padronizados, como ensaios clínicos, para esclarecer melhor essa associação.