Introdução: As anomalias coronarianas congênitas são, por muitas vezes, diagnosticadas apenas na fase adulta, em cenários desfavoráveis. Tais alterações anatômicas se tornam cada vez mais conhecidas devido sua crescente associação com a morte súbita. Sobretudo em casos de coronária anômala com trajeto interatrial, há um risco elevado para torção, isquemia miocárdica, arritmia ventricular e morte súbita, principalmente durante a prática de atividades físicas.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 51 anos, com história pregressa de hipertensão arterial sistêmica, apresentava queixa de dor torácica atípica, sendo submetida a estratificação não invasiva no ano de 2021. Realizada angiotomografia de coronárias para elucidação do quadro e evidenciado Anomalia Coronariana, esta em que o Tronco Coronária Esquerda (TCE) é oriunda do seio coronário direito, com trajeto maligno (interarterial), confirmada por cateterismo. Optou-se, então, pela abordagem cirúrgica de correção anatômica de coronária anômala por meio da técnica de ostioplastia com remendo de pericárdio bovino com liberação do TCE do leito interarterial. Incialmente permaneceu assintomática, porém 3 meses após a abordagem cirúrgica, apresentou episódios de angina. Procurou UPA, sendo realizado eletrocardiograma (ECG) evidenciando supra desnivelamento de aVR com infra desnivelamento das demais paredes (D1, aVL e V3 a V6), padrão tronco-like. Encaminhada ao HUB e em nova estratificação invasiva foi vista oclusão importante do enxerto previamente inserido cirurgicamente. Após discussão em Heart Team, optou-se por cirurgia de revascularização miocárdica.
Conclusão: O diagnóstico da patologia em questão é complexo e depende de técnicas mais avançadas, uma vez que as variações anatômicas das coronárias são raramente vistas em técnicas de imagem convencionais. Na suspeita, a busca diagnóstica deve ser realizada por meio da angiotomografia de artérias coronárias, o exame padrão ouro para a investigação. O tratamento das anomalias coronarianas é um procedimento que requer técnicas cirúrgicas complexas, visando restaurar o fluxo sanguíneo e prevenir complicações isquêmicas. São descritas técnicas como o reimplante extra-anatômico autólogo, como utilizado na paciente em questão. Por fim, apesar de necessário, o procedimento não é isento de complicações. Apesar de não serem comuns, a literatura médica apresenta descreve complicações subsequentes à abordagem cirúrgica: insuficiência aórtica, redução da FE e isquemia residual ou recorrente.