INTRODUÇÃO: A endocardite infecciosa (EI) em neonatos é uma condição rara e grave, associada a alta mortalidade. Neonatos em UTIs são vulneráveis devido à imaturidade imunológica, uso de cateteres venosos e exposição a procedimentos que facilitam a bacteremia. Infecções cutâneas por Staphylococcus aureus (S. aureus), quando associadas à bacteremia, podem atuar como fator predisponente para o desenvolvimento de EI. Este estudo investiga a relação entre infecções cutâneas por S. aureus e EI em neonatos, identificando fatores de risco e estratégias de manejo. METODOLOGIA: Estudo retrospectivo de neonatos (0-28 dias) com EI secundária a infecções cutâneas por S. aureus, em UTIs pediátricas (2015-2025). Foram incluídos neonatos com diagnóstico confirmado de EI segundo os critérios de Duke modificados e com isolamento microbiológico de S. aureus em hemoculturas. Analisaram-se gravidade da infecção cutânea, uso de cateteres, antibioticoterapia e complicações cardíacas/sistêmicas. ANÁLISES ESTATÍSTICA: Dados processados no Stata/MP 18.0 e GraphPad Prism 9.0 (p < 0,05). O uso de cateter venoso central por mais de 7 dias esteve associado a um risco significativamente aumentado de EI (OR: 5,3; IC95%: 2,1-9,8; p = 0,001). Além disso, a administração de doses subótimas de vancomicina correlacionou-se com a persistência da bacteremia (OR: 4,1; IC95%: 1,9-7,2; p = 0,002). A mortalidade intra-hospitalar foi de 28% no grupo com EI versus 8% no grupo sem EI (RR: 3,5; IC95%: 1,9-6,4). RESULTADO:Entre os neonatos com EI, 78% apresentavam infecções cutâneas graves, e 92% faziam uso de cateteres venosos. Staphylococcus aureus meticilino-resistente (MRSA) foi identificado em 65% das hemoculturas. As complicações mais frequentes incluíram insuficiência cardíaca aguda (47%), embolização cerebral (33%) e abscesso miocárdico (18%). Cirurgia cardíaca foi necessária em 40% dos casos, com mortalidade de 28%. CONCLUSÃO: Neonatos com infecções cutâneas por S. aureus, especialmente MRSA, têm alto risco de EI, agravado por dispositivos invasivos e manejo antimicrobiano inadequado. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo vigilância microbiológica, manejo adequado de dispositivos invasivos e otimização da terapia antimicrobiana, é essencial para reduzir a mortalidade e melhorar os desfechos clínicos. Estratégias como higiene rigorosa, remoção precoce de cateteres, terapia antimicrobiana ajustada e cirurgia precoce para complicações graves são fundamentais na redução dos riscos e na melhoria dos prognósticos.