Introdução: Durante o perioperatório da cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), condições clínicas como o diabetes mellitus podem influenciar os desfechos cirúrgicos, especialmente quando descompensado. Este estudo avalia o impacto do diabetes descompensado nos desfechos de pacientes submetidos à CRM no Brasil, visando aprimorar estratégias de manejo perioperatório. Métodos: Estudo de coorte retrospectivo realizado entre abril de 2024 e janeiro de 2025, com dados do Projeto BraSCORE, envolvendo 15 instituições brasileiras e aprovado pelo Comitê de Ética (parecer 7.325.260). Os centros foram treinados para coleta de dados na plataforma Cardux, registrando características clínicas, fatores de risco, estado cardíaco pré-operatório, variáveis intraoperatórias, complicações pós-operatórias e acompanhamento até 30 dias. Diabéticos descompensados foram definidos como aqueles com HbA1c > 7,5%. Foram excluídas cirurgias valvares, emergências e pacientes menores de 18 anos. Os dados foram analisados no STATA 16.1, com variáveis categóricas expressas em frequências e numéricas em mediana, mínimo e máximo. Utilizou-se o Teste Qui-Quadrado, T de Student e odds ratio (OR) para infecção profunda e readmissão em 30 dias (p<0,05). Resultados: Foram avaliados 543 pacientes, sendo 56,72% diabéticos e 43,28% não diabéticos. A idade média foi semelhante entre os grupos: 62,86 anos (DP=8,6; IC95% 61,86–63,86) para diabéticos e 63,06 anos (DP=9; IC95% 61,85–64,27) para não diabéticos. O EuroSCORE foi maior em diabéticos (1,52; IC95% 1,29–1,75 vs. 1,19; IC95% 1,03–1,35; p=0,000), indicando maior risco cirúrgico. Entre os diabéticos, 35,71% eram insulino-dependentes e 41,3% tinham HbA1c > 7,5%. A creatinina foi similar entre os grupos (1,23 mg/dL; IC95% 1,2–1,3 vs. 1,14 mg/dL; IC95% 1,01–1,2). Quanto aos enxertos, o uso de veia safena (74,68% vs. 68,09%) e ATIE (80,84% vs. 76,60%) foi mais comum em diabéticos, enquanto o uso de ATID (10,39%) e artéria radial (10,64%) foi similar. O uso de BIMA também não diferiu entre os grupos (8,77% vs. 9,36%). Diabéticos descompensados apresentaram risco 2,5 vezes maior de infecção profunda (7,14% vs. 2,13%; IC95% 1,3–12; p=0,042). Conclusão: Pacientes com diabetes descompensado apresentam maior risco de infecção profunda, reforçando a necessidade de controle glicêmico rigoroso no perioperatório. Estratégias de otimização glicêmica e escolha do tipo de enxerto arterial podem impactar na redução de complicações e custos.