Introdução: As "Diretrizes de Uso Apropriado para Revascularização Coronária" orientam os médicos na prestação de cuidados de alta qualidade e na otimização do uso dos recursos de saúde. Embora estudos prévios tenham indicado uma taxa de inadequação das intervenções coronárias percutâneas (ICP) eletivas de aproximadamente 10%, faltam dados semelhantes que representam as ICPs no Brasil. Objetivo principal deste estudo foi determinar a taxa das ICPs eletivas classificadas como apropriadas, possivelmente apropriadas ou raramente apropriadas. O objetivo secundário visou identificar características dos pacientes associadas à inapropriação das ICPs.
Métodos: Neste estudo retrospectivo, incluímos pacientes estáveis com síndrome coronariana crônica que se submeteram a ICP eletiva entre 2017 e 2020 em um hospital de cardiologia em São Paulo. A adequação da ICP foi avaliada utilizando os critérios do Colégio Americano de Cardiologia de 2017. A adequação foi analisada no nível de território tratado (tronco da coronária esquerda, artéria descendente anterior, artéria circunflexa e coronária direita). Variáveis clínicas associadas à ICP raramente apropriada foram identificadas no grupo de pacientes com ICP de um único vaso.
Resultados: 467 pacientes se submeteram a 474 ICPs eletivas com 543 territórios coronários tratados. 59 (10,9%), 263 (48,4%) e 221 (40,7%) ICPs foram raramente apropriadas, possivelmente apropriadas e apropriadas, respectivamente. ICP de um único vaso foi realizada em 332 pacientes. Fatores associados a maior taxa de inadequação foram: sexo masculino (OR 2,83, IC 95% 1,14-7,02), ausência de sintomas (OR 8,24, IC 95% 3,79-17,91) e teste funcional positivo (OR 13,12, IC 95% 3,94-43,72). Fatores associados à menor taxa de inadequação foram: assistência no sistema público de saúde (OR 0,20, IC 95% 0,095-0,43), infarto do miocárdio prévio (OR 0,21, IC 95% 0,07-0,6), ICP prévia (OR 0,22, IC 95% 0,08-0,63) e uso atual de betabloqueadores (OR 0,24, IC 95% 0,12-0,49).
Conclusão: A ICP raramente apropriada foi mais prevalente entre homens assintomáticos, sem infarto prévio, sem medicação adequada e com plano de saúde privado. Esses achados sugerem uma possível utilização excessiva da ICP eletiva nesses pacientes, levando os prestadores de saúde a revisarem cuidadosamente as indicações de um procedimento oneroso e potencialmente arriscado, como a ICP.