Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das complicações mais graves após cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), com incidência de 1% a 5%. Este estudo avaliou a incidência e os fatores de risco para AVC até 30 dias após CRM, utilizando dados multicêntricos do Projeto BraSCORE, que coleta informações para o desenvolvimento de um escore de risco de mortalidade pós-CRM. Métodos: Estudo de coorte retrospectivo realizado entre abril de 2024 e janeiro de 2025, com dados do Projeto BraSCORE, envolvendo 15 instituições brasileiras e aprovado pelo Comitê de Ética (parecer 7.325.260). Os centros foram treinados via plataforma Cardux, registrando características clínicas, fatores de risco, variáveis intraoperatórias, complicações pós-operatórias e acompanhamento até 30 dias. Foram excluídas cirurgias valvares associadas, emergências e pacientes menores de 18 anos. Os dados foram analisados no STATA 16.1, com variáveis categóricas expressas em frequências e numéricas em média e desvio padrão. Utilizou-se o Teste Exato de Fisher e Mann-Whitney, e variáveis significativas foram avaliadas por regressão logística univariada para risco de AVC (p<0,05). Resultados: Foram incluídos 545 pacientes de CRM isolada. A incidência de AVC foi de 2,9%, com idade média de 66 anos (DP=6,4), maioria masculina (69%) e 50% de casos eletivos. Todos os pacientes com AVC eram hipertensos, 69% diabéticos (36% insulino-dependentes), 25% tiveram COVID-19 e 33% apresentavam DPOC. Cerca de 37% tinham NYHA ≥ III e 6,3% CCS IV. Todos os pacientes com AVC foram operados com circulação extracorpórea (CEC). Quanto aos enxertos, 93,8% utilizaram veia safena, 87,5% ATIE, 6,3% ATID e 6,3% artéria radial. O tempo médio de ventilação mecânica foi de 7,5 horas, com 45% necessitando de reintubação. No seguimento de 30 dias, 2 pacientes foram readmitidos e 4 faleceram. A regressão logística identificou diabetes como potencial preditor de AVC (OR=1,7; p=0,330) e aumento de 2% no risco para cada minuto adicional de anóxia durante a CEC (OR=1,02; p=0,024; IC95% 1,0-1,03). Conclusão: A alta prevalência de comorbidades e a necessidade de reintubação em 45% dos casos de AVC destacam a complexidade do manejo desses pacientes. Os resultados sugerem a importância de estratégias para reduzir o tempo de anóxia e otimizar o controle metabólico, especialmente em diabéticos, visando diminuir a incidência de AVC pós-CRM. O estudo reforça a necessidade de monitoramento rigoroso e intervenções precoces em subgrupos de maior risco, contribuindo para melhorar os desfechos pós-operatórios.