Introdução: A aortite envolve desordens que implicam a inflamação na aorta, de etiologias diversas. Trata-se de aortite clinicamente isolada (ACI) os casos diagnosticados por análise patológica e radiológica, na ausência de vasculite sistêmica. O presente artigo tem como objetivo relatar o follow up de um caso de ACI envolvendo uma dissecção aórtica subaguda com achado histológico compatível com aortite autoimune inflamatória.
Relato de caso: Sexo feminino, 42 anos, asiática, sem fatores de risco para doença arterial coronária, apresentou dor torácica súbita com irradiação para membro superior esquerdo e região cervical, associado a êmese e sudorese em 2023. Foi atendida em emergência, com exclusão de síndrome coronariana aguda. A tomografia de tórax e a angiotomografia de coronária evidenciaram dissecção aórtica tipo B retrógrada, corrigida com endoprótese vascular em julho de 2023. Dado a persistência sintomática, nova angiotomografia foi realizada e revelou úlcera de aorta ascendente e dissecção aórtica tipo A, sendo indicado a troca da aorta ascendente por prótese tubular valvulada e reimplante de coronárias em agosto de 2023. Observou-se aorta friável no intraoperatório. O exame histopatológico de fragmento aórtico revelou infiltrado inflamatório linfocitário e medionecrose cística, confirmando aortite isolada. Causas infecciosas foram excluídas. Após a segunda intervenção cirúrgica, os sintomas persistiram. Realizado tratamento com prednisona e metotrexato, resultando em melhora clínica parcial. Visando otimização terapêutica, iniciado adalimumabe em 2024, seguido de controle álgico satisfatório. Atualmente, em seguimento ambulatorial.
Discussão: A aortite é uma importante forma de vasculite com risco significativo de complicações. Na aortite não infecciosa, o risco de complicações vasculares é elevado, havendo predileção pela aorta proximal e formação de aneurismas. A aortite ascendente não infecciosa isolada raramente é diagnosticada previamente à ocorrência de complicações, como aneurismas ou dissecções. Sendo assim, o envio de tecido aórtico para análise histopatológica deve ser garantido. O diagnóstico quando não associado às complicações de ruptura ou dissecção, é achado incidental durante investigação de outras doenças. Devido a associação de pacientes com ACI e o risco aumentado para eventos aórticos subsequentes (novos aneurismas ou dissecções), é recomendável monitorização periódica com exames de imagem aórtica. Há evidências crescentes de que alguns pacientes com ACI podem se beneficiar de terapia imunossupressora.