Introdução: A pericardite constritiva determina uma síndrome restritiva cardíaca externa e consequente congestão visceral grave e progressiva. O diagnóstico é negligenciado e os pacientes são frequentemente diagnosticados como portadores de hepatopatias graves.
Relato de caso: Masculino 47 anos, vem apresentando há 4 anos com intolerância aos esforços, aumento progressivo de volume abdominal, edema de MMII e de região escrotal e laboratoriais com disfunção hepática. Procurou diversas vezes serviços de saúde realizando várias paracenteses de alívio e tratamento com diuréticos. Foi encaminhado para o serviço de gastroenterologia o qual iniciou investigação de hepatopatia crônica inclusive com biópsia hepática e avaliação cardiológica para possível transplante hepático. No exame cardiológico constatou-se estase jugular 4+, sinal de Kussmaul, bulhas rítmicas e hipofonéticas. No exame abdominal presença de volumosa ascite e hérnia umbilical. Presença de varizes acentuadas, sinais de edema crônico e dermatite ocre em membros inferiores. O eletrocardiograma relevou baixa voltagem em todas as derivações com alterações difusas da repolarização. O rx de tórax demonstrou acentuada calcificação no pericárdio e derrame pleural direito. Análise do ecocardiograma foi limitada pela janela ecocardiográfica desfavorável com aumento dos volumes atriais, cavidades ventriculares normais e FE preservada e veia cava inferior dilatada sem variabilidade inspiratória. A RNM cardíaca revelou espessamento pericárdico com realce de padrão inflamatório sugestivo de pericardite constritiva. Realizado o cateterismo cardíaco direito com evidência de equalização das pressões diastólicas finais de VE e VD e sinal da raiz quadrada nas medidas de pressão do VD. Submetido a pericardiectomia anterior de nervo frênico a nervo frênico e em torno da entrada das veias cavas. Realizada o anatomopatológico da peça cirúrgica com sinais de calcificação extensa, ausência de sinais de malignidade, de granulomas e de necrose caseosa. Paciente teve boa evolução e se encontra assintomático 3 meses após o tratamento cirúrgico.
Conclusão: A pericardite constritiva é uma doença curável com a pericardiectomia. Os médicos devem ter um alto índice de suspeição em pacientes que se apresentam com sinais e sintomas de hepatopatia crônica sem etiologia definida. Neste caso, a presença da estase jugular fixa, sinal de Kussmaul, eletrocardiograma de baixa voltagem e calcificação pericárdica no RX de tórax foram suficientes para o diagnóstico da pericardite constritiva como causa da suposta hepatopatia crônica.