Introdução: Pacientes com angina refratária (AR) têm duas vezes mais risco de morte cardiovascular do que aqueles com angina não limitante (NLA). Mesmo que todos os fatores de risco estejam controlados alguns pacientes com doença coronariana crônica apresentarão progressão da aterosclerose, sintomas isquêmicos persistentes e recorrência de eventos cardiovasculares. Esse processo é explicado pelos pilares de aterotrombose, inflamação vascular e metabolismo de lipoproteínas. Por isso, este estudo teve como objetivo avaliar a funcionalidade da HDL em pacientes com AR. Métodos: 28 pacientes com AR e 41 controles com NLA foram incluídos. A transferência de colesterol não esterificado e esterificado para HDL de uma emulsão lipídica doadora, bem como o seu diâmetro e sua capacidade antioxidante foram avaliados. A dosagem da lipoproteína (a) [Lp(a)] foi realizada e o Syntax Score I foi utilizado para avaliar a complexidade anatômica dos pacientes. Resultados: Não houve diferença entre os grupos quanto à transferência de colesterol não esterificado (NLA 4,94±0,61 vs. RA 4,92±0,70, p=0,91) e esterificado (NLA 3,84±0,46 vs. RA 3,78±0,61, p=0,69), diâmetro da HDL (NLA 9,07±0,23 vs. RA 9,05±0,32, p=0,81) e a capacidade antioxidante também foi semelhante entre eles. Ambos os grupos mostraram-se complexos do ponto de vista anatômico, mas os pacientes com AR foram mais grave (NLA 30,30±12,40 vs. AR 36,90±12,10, p<0,05). O diâmetro da HDL, a capacidade antioxidante e a transferência de colesterol não esterificado e esterificado não se correlacionaram significativamente com a complexidade anatômica (p=0,98; p=0,55, p=0,94; p=0,43; respectivamente). Neste estudo, os valores médios de Lp(a) plasmática estavam elevados e, para a mesma faixa de Lp(a), os pacientes do grupo AR apresentaram um Syntax significativamente maior. Conclusão: O fato de que os aspectos funcionais importantes da HDL medidos aqui não terem sido diferentes na AR em comparação ao NLA estimula a busca por deficiências nas diversas outras funções da HDL que poderiam contribuir para o agravamento da doença e o aparecimento do quadro clínico da AR. Os valores da lipoproteína (a) acima de 30 mg/dL podem ser determinantes para uma anatomia coronária mais complexa dentre os pacientes com AR.