INTRODUÇÃO: A endomiocardiofibrose (EMF) é uma doença rara e de etiologia desconhecida caracterizada pela deposição de tecido fibrótico no endomiocárdio, podendo levar a distorção arquitetural dos ventrículos, incluindo espessamento apical, insuficiências valvares, disfunção diastólica e fenômenos tromboembólicos. A fisiopatologia ainda não está bem definida e pode estar associada à inflamação endomiocárdica causada por hipereosinofilia que, em sua fase aguda, pode ser considerada um espectro da endocardite de Löeffler. RELATO DE CASO: C.E.C. masculino, 65 anos, hipertenso, dislipidêmico, com angioplastia com stent para artéria descendente anterior em 2014. Apresentou alteração aguda do estado mental há 1 semana, com ressonância magnética (RM) de crânio evidenciando múltiplos focos isquêmicos encefálicos recentes, sugerindo etiologia embólica. Detectada grave hipereosinofilia (7580, VR<450/mm3) além de proteína C reativa e troponina aumentadas (2703, VR<14ng/L). Antecedente de extração dentária há 4 meses sem antibioticoprofilaxia, ausência de fenômenos alérgicos, verminoses ou viagens recentes. Levantada a hipótese de endocardite infecciosa, não sendo no ecocardiograma transesofágico observados sinais sugestivos de endocardite, porém visto espessamento apical de ventrículo esquerdo (VE). Prosseguida investigação com RM cardíaca com achado de edema miocárdico e obliteração apical do VE, além de fibrose miocárdica e trombos, achados compatíveis com EMF. Iniciado tratamento com pulsoterapia e anticoagulação plena. DISCUSSÃO: Apesar de clinicamente similar à endocardite de Loeffler o diagnóstico de EMF parece ser reservado para pacientes de regiões endêmicas (países tropicais) sem causa clara identificada para eosinofilia e com achados típicos nos exames de imagem. A EMF engloba fase inflamatória aguda, caracterizada por miocardite eosinofílica e fase crônica com espessamento fibrótico, trombos e padrão restritivo diastólico. Os achados do caso relatado sugerem fase aguda da doença e o tratamento realizado com pulsoterapia pode reduzir o processo inflamatório, minimizando assim a progressão para fibrose e a potencial evolução para cardiomiopatia restritiva crônica. CONCLUSÃO: A EMF é uma doença rara, com manifestação clínica vasta e geralmente diagnosticada na fase crônica quando já mais sintomática. Este caso mostra uma manifestação inicial atípica, com eventos neurológicos tromboembólicos, em que os exames de imagem, principalmente a ressonância magnética cardíaca, tiveram um papel relevante para a elucidação diagnóstica.
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