Introdução:Evidências recentes sugerem que a reativação da febre reumática (FR) no adulto pode manifestar-se como miocardite com disfunção ventricular esquerda, mesmo na ausência de valvopatia anatomicamente importante. Em geral, o comprometimento ventricular provocado pela recorrência da cardite reumática é reversível após tratamento com corticosteroides, porém a literatura é bastante escassa em relação a este tópico. Métodos: Este estudo avaliou 68 pacientes com reativação da FR e miocardite confirmada por 18F-FDG PET/CT ou cintilografia com gálio-67. Foram realizados três ecocardiogramas sequenciais: (1) basal, (2) durante a miocardite e (3) pós-tratamento com corticosteroides. Os pacientes foram divididos em dois grupos com base na ausência (Grupo 1) ou presença (Grupo 2) de redução da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) durante o episódio de miocardite. Resultados: A mediana de idade foi de 47 [33-60] anos, com 69% dos pacientes com mais de 40 anos e 70% mulheres. Apenas 21 pacientes (30,9%) estavam em uso regular de penicilina. Não foram observadas diferenças demográficas, ecocardiográficas ou laboratoriais significativas entre o Grupo 1 (n=15) e o Grupo 2 (n=53), exceto pela dispneia classe III/IV da NYHA (28,6% vs 73,6%; p=0,005), artralgia (28,6% vs 3,9%; p=0,017) e FEVE (50 [34-66] vs 32 [24- 40]%; p=0,001), como esperado. O diagnóstico de cardite reumática foi determinado em 42 dos pacientes (61,8%) por meio do PET scan positivo e em 39 (57,4%) pela cintilografia. (Figura 1A e 1B) O grupo 2 teve declínio significativo da FEVE durante a cardite, e melhora significativa após o tratamento (Figura 1C). A taxa de mortalidade foi de 11,8% em uma mediana de acompanhamento de 702 [1289-326] dias, sem diferenças entre os grupos. (Figura 1D) Conclusão: A miocardite pela reativação da FR pode causar disfunção ventricular esquerda independentemente do acometimento valvular, sendo, em geral, reversível após tratamento com corticosteroides.