Introdução: Angina refratária é uma manifestação da doença coronária estável, com sintomas persistentes a despeito de terapia clínica otimizada na qual pacientes não são candidatos ideais a procedimentos de revascularização. Caso clínico: Homem, 62 anos, portador de angina limitante e doença arterial coronariana multiarterial. Submetido a cirurgia de revascularização do miocárdio em 2015 em serviço externo. Após sete anos da intervenção evoluiu com recorrência e piora progressiva de sintomas, a despeito da manutenção da função ventricular esquerda na ecocardiografia. Nova estratificação invasiva mostrou lesões importantes difusas em circulação coronária esquerda, com tronco trifurcado, além de oclusão crônica em coronária direita (CD). Enxerto venoso à CD pérvio e enxerto da artéria torácica interna esquerda à descendente anterior (DA) hipodesenvolvido e 90% obstruído distalmente. Inelegível inicialmente para nova revascularização, optado por tratamento clínico em ambulatório especializado em angina refratária, com controle de fatores de risco, otimização de duplo-produto e terapia adicional com trimetazidina. O paciente manteve comprometimento funcional e angina. Nova estratificação mostrou progressão das lesões em leito nativo além de enxerto arterial ocluído. Interpretado em heart-team como desfavorável para reabordagem cirúrgica por alto risco intrínseco relacionado à alta complexidade anatômica. Optado por intervenção percutânea (Figuras 1 e 2). Realizada angioplastia de trifurcação guiado por ultrassom intracoronário (IVUS). Observada placa aterosclerotica calcificada em tronco de coronária esquerda (TCE) com área luminal mínima de 5,73 mm² e carga de placa de 67%. Implantado stent farmacológico em região de trifurcação pela técnica de kissing balloon com resultado de área luminal mínima de 11,81 mm². Após abordagem, o paciente evoluiu com resolução dos sintomas e redução da prescrição de anti-anginosos. Realizadas provas funcionais após seis meses, sem alteração perfusional estresse-induzido, e sem alteração eletrocardiográfica de esforço compatível com isquemia em teste submáximo. Discussão: A angioplastia de tronco trifurcado é um procedimento de exceção em uma região de alta complexidade anatômica, considerando a dificuldade técnica e o risco de complicações inerentes ao procedimento. Conclusão: Este caso relata um paciente portador de angina refratária, inicialmente inelegível para revascularização, tratado com procedimento de exceção que possibilitou significativa melhora da qualidade de vida e status funcional.