Introdução: A cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo esquerdo (CAVE) é rara e frequentemente subdiagnosticada. Essa condição é caracterizada pela substituição fibrogordurosa do miocárdio do ventrículo esquerdo (VE), identificável por análise histológica ou por um padrão característico de realce tardio na ressonância magnética cardíaca (RMC), geralmente em forma de anel ("ring-like"). O diagnóstico pode ser corroborado por testes genéticos positivos ou pela presença de histórico familiar da doença. Clinicamente, a CAVE apresenta ampla variabilidade, com manifestações que incluem dor torácica, arritmias ventriculares e, em casos graves, morte súbita. O reconhecimento precoce dessa condição é essencial para um manejo clínico adequado.
Relato de Caso: Paciente do sexo feminino, 69 anos, em seguimento ambulatorial por insuficiência cardíaca (IC), inicialmente em classe funcional (CF) III. Ao exame físico, não apresentava alterações significativas. Ecocardiograma prévio revelou fração de ejeção (FE) de 22%. Foi solicitada RMC para melhor caracterização estrutural e otimização terapêutica. Na RMC (Figura 1 Figura 2) foi evidenciado fibrose miocárdica extensa no VE, com padrão "ring-like", sugestivo de acometimento não isquêmico. Após otimização da terapia medicamentosa para IC avançada, a paciente evoluiu com estabilidade clínica, sinais sugestivos de remodelamento reverso do VE e melhora funcional progressiva. Atualmente, encontra-se assintomática do ponto de vista cardiovascular, em CF I, com FE de 41%.
Conclusão: A CAVE representa um desafio diagnóstico relevante devido à sua heterogeneidade clínica e sobreposição com outras cardiomiopatias. O diagnóstico definitivo exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cardiologistas, radiologistas e geneticistas. A RMC desempenha papel central na caracterização tecidual e funcional do VE, permitindo a diferenciação entre CAVE e outras doenças miocárdicas. O acompanhamento longitudinal e a investigação genética são fundamentais para estratificação de risco e individualização do tratamento, considerando o potencial caráter hereditário da doença. O reconhecimento precoce e a intervenção adequada podem impactar positivamente o prognóstico e reduzir a morbimortalidade associada à CAVE.