Introdução: O Metaraminol é um vasoconstritor periférico, substância comumente utilizada em procedimentos anestésicos para manutenção de níveis pressóricos adequados. Além disso, já foi evidenciada a relação entre o seu uso e o espasmo de artérias coronárias. Em situações em que há a administração de drogas simpatomiméticas, como a descrita, seguida de sintomas como dor torácica, deve-se considerar a eventual possibilidade de vasoespasmo coronariano.
Relato de Caso: Paciente masculino, 66 anos, seguia em serviço urológico externo por hiperplasia prostática benigna e disfunção erétil, tendo sido submetido à realização de ultrassonografia com doppler peniano com ereção fármaco-induzida. Durante o exame, realizada injeção intracavernosa de Metaraminol, um agonista alfa-1 adrenérgico, causando detumescência peniana. Após administração, paciente evoluiu com quadro de dor torácica típica, associado a hipotensão, sudorese e mal-estar. Realizado eletrocardiograma (ECG), sem alterações sugestivas de isquemia aguda, e seriada Troponina, com curva positiva 130 (0 hora) - 1019 ng/L (2 horas). Realizadas medidas para síndrome coronariana aguda (SCA) e paciente foi encaminhado à estratificação invasiva com cateterismo cardíaco (CATE), não sendo identificadas lesões obstrutivas, e ventriculografia demonstrando hipocinesia nas paredes anterior e inferior. Também realizou ecocardiograma transtorácico, sem evidência de alterações segmentares e com fração de ejeção do ventrículo esquerdo levemente reduzida, de 45%. Para avaliação de outros diagnósticos diferenciais de infarto agudo do miocárdio (IAM) sem evidência de lesões arteriais coronarianas obstrutivas (MINOCA), procedeu-se à realização de ressonância magnética cardíaca, com ausência de realce tardio miocárdico ou edema e mapa T1 e fração do volume extracelular aumentados (VEC = 43%).
Discussão: Drogas simpatomiméticas, como o Metaraminol, podem causar espasmo coronariano devido a sua ação nos receptores alfa-adrenérgicos localizados nas artérias epicárdicas. Dessa forma, podem resultar em isquemia miocárdica pelo desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio e, não, classicamente por mecanismos aterotrombóticos coronarianos.
Conclusão: O caso descrito refere-se a um quadro de MINOCA por provável vasoespasmo coronariano induzido pela administração de Metaraminol. Trata-se de uma substância com diversos efeitos, dentre eles o espasmo de artérias coronárias, podendo causar IAM pelo desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio pelo miocárdio.