Introdução: A infecção pelo vírus da dengue apresenta-se como endêmica no Brasil, e tem crescido nos últimos anos. O acometimento cardíaco é mais comum nos casos de dengue grave, podendo acontecer devido à natureza cronotrópica do vírus. A miocardite pelo vírus da dengue tem sua incidência incerta na literatura, visto a sua variabilidade na apresentação clínica, passando por quadros assintomáticos até de dor torácica, dispneia e arritmias cardíacas, o que dificulta seu diagnóstico.
Descrição: Paciente masculino, 47 anos, sem comorbidades prévias, com histórico de infecção por dengue há 2 semanas, por diagnóstico clínico e sorológico, sem necessidade de internação hospitalar na ocasião, procura atendimento de urgência referindo dor retroesternal anginosa com início há 6 horas. Em eletrocardiograma (ECG) inicial, apresentava-se com onda T bifásica (plus-minus) em derivações precordiais (V2-V5), além de troponina-Us 212ng/L, sugerindo Síndrome de Welles tipo A ou tipo 1 (figura 1). Realizadas medidas iniciais para Síndrome Coronariana Aguda (SCA) e encaminhado para cateterismo cardíaco (CATE) que evidenciou apenas lesão discreta a moderada (50%) em região proximal da descendente anterior (figura 2), além de ecocardiograma transtorácico sem disfunção ventricular ou outras alterações relevantes. Mantido tratamento clínico, com curva de troponina positiva em queda (2º dia: 3020 ng/L; 3º dia: 1962 ng/L; 4º dia: 867 ng/L) e melhora sintomática, prosseguiu com investigação de diagnósticos diferenciais de “MINOCA” (do inglês: myocardial infarction with non-obstructive coronary arteries), ou seja, infarto agudo do miocárdio sem lesões epicárdicas > 50% ao CATE. Dessa forma, realizou angiotomografia de coronárias que descartou dissecção coronariana, confirmando apenas a lesão focal proximal de DA moderada, além de escore de cálcio coronariano de zero. Após, realizada ressonância magnética cardíaca que evidenciou edema e realce tardio mesocárdico nos segmentos inferosseptais basais e médios, de padrão não isquêmico, apontado como diagnóstico de miocardite aguda (figura 3). Optado por tratamento medicamentoso e seguimento ambulatorial, com melhora sintomática e das alterações eletrocardiográficas (figura 4).
Conclusão: A apresentação clínica de miocardite aguda pós-infecção pelo vírus da dengue mimetizou clínica e eletrocardiograficamente (Síndrome de Wellens tipo A) uma SCA, sendo necessária investigação etiológica e diferencial das condições que englobam MINOCA.