Introdução: O consumo nocivo de álcool está associado a uma grande quantidade de problemas sociais e de saúde, incluindo desfechos cardiovasculares desfavoráveis. As técnicas de Triagem e Intervenção Breve (TIB) têm sido amplamente utilizadas para reduzir os danos ocasionados pelo consumo nocivo de álcool. Recentemente, tem sido relatadas experiências de aplicação de TIB de forma digital, demonstrando boa aceitação desse tipo de abordagem, em diferentes populações.
Objetivos: Avaliar um sistema digital de TIB para redução e prevenção de consumo nocivo de álcool comparado a protocolo TIB presencial em acompanhantes de pacientes cardiopatas.
Métodos: Estudo randomizado, conduzido em clínica de hospital terciário. A triagem de risco foi feita pelo formulário Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e a intervenção teve como referencial teórico a Entrevista Motivacional (intervenção breve), de forma presencial (grupo presencial – GP) ou por sistema de chatbot no Whatsapp (grupo digital – GD). O estudo foi composto por duas fases: Fase 1- recrutamento dos participantes, obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido, randomização dos grupos, aplicação do AUDIT basal, classificação de consumo conforme zona de risco e aplicação de intervenção breve; Fase 2- aplicação do AUDIT final e verificação da efetividade do processo de intervenção após 6 meses. Pacientes classificados em risco severo foram aconselhados a procurarem o serviço do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) mais próximo da residência. A estatística foi realizada por análise descritiva.
Resultados: Foram randomizados 521 participantes, sendo 407 (78,1%) do sexo feminino, com idade média de 45,8±10,4 anos, distribuídos em 260 no grupo GP e 261 no grupo GD. Os dois grupos apresentaram distribuição semelhante em relação à idade e sexo. No GP, todos os participantes concluíram a Fase 1, enquanto no GD, 194 (74,3%) concluíram. Foram classificados como consumidores nocivos no grupo GP 62 (23,8%) e 64 (32,9%) no GD. Completaram a Fase 2, 184 no grupo GP e 88 no grupo GD, sendo classificados como consumidores nocivos, 39 (21,2%) e 10 (11,4%) respectivamente.
Conclusão: O sistema digital mostrou-se mais eficiente que o presencial, no entanto, com menor aderência ao tratamento. Esses achados sugerem um desafio, destacando a necessidade de estratégias que promovam uma melhor adesão ao tratamento em abordagens digitais, mas, ao mesmo tempo, evidenciam seu potencial como uma alternativa eficaz à intervenção presencial.
