INTRODUÇÃO: A utilização de suporte mecânico em angioplastias complexas é um tema pouco esclarecido na literatura. Com o aumento da disponibilidade de dispositivos cada vez mais eficientes, surge a necessidade de discutir esse cenário no dia a dia do intervencionista. RELATO DE CASO: Paciente masculino de 61 anos, previamente assintomático, história de infarto aos 28 anos não tratado e sem acompanhamento, iniciou episódios quase diários de angina, tontura e turvação visual nos últimos 30 dias, durando de cerca de 2 minutos. Há 8 dias, as crises ficaram mais frequentes, culminando em 4 episódios na manhã da admissão. Atendido em serviço externo, foi flagrada taquicardia de QRS largo, revertida após manobra vagal. Encaminhado assintomático ao Instituto do Coração no mesmo dia, eletrocardiograma evidenciava alterações compatíveis com coronariopatia crônica e ecocardiograma com fração de ejeção de 25%, acinesia septo-apical e hipocinesia difusa. Por dúvida diagnóstica e troponina inicial de 1538 ng/L (referência: <34 ng/L), considerou-se a possibilidade de taquicardia ventricular monomórfica, iniciando-se amiodarona endovenosa. Nova troponina de 31.650 ng/L determinou urgência no cateterismo, que revelou padrão obstrutivo triarterial por oclusão total crônica (CTO) de descendente anterior (DA) e coronária direita proximais, além de artéria circunflexa derradeira com estenose proximal de 90%. Foi encaminhado à Unidade Coronariana, com planejamento de discussão em “Heart Team”. Horas depois, evoluiu com instabilidade hemodinâmica e necessidade de suporte farmacológico e com balão intra-aórtico (BIA). Apresentou duas paradas cardiorrespiratórias assistidas, totalizando 6 minutos, sendo contraindicada abordagem cirúrgica. Encaminhado para angioplastia de urgência, mantinha o padrão prévio, sendo realizada angioplastia com stent farmacológico em circunflexa proximal e "kissing balloon” em ramo marginal sob suporte com BIA. Obteve-se fluxo TIMI 3 e melhora hemodinâmica imediata. Por fim, a CTO de DA apresentava alta complexidade à técnica de dupla injeção e foi indicado planejamento de segunda abordagem posteriormente. CONCLUSÃO: As evidências mais robustas a respeito do uso de suporte mecânico nessas situações não demonstraram benefício em desfechos duros, rendendo um grau de recomendação 2b no último guideline de revascularização do American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee. Ainda assim, este relato reforça de forma anedótica o possível benefício da utilização desse tipo de estratégia, como o BIA, em casos complexos selecionados.