A insuficiência cardíaca (IC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil, afetando cerca de 2 milhões de pessoas e gerando aproximadamente 240 mil novos casos anuais. A introdução dos inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (iSGLT2) em 2018 representou um avanço no tratamento da IC, apresentando efeitos cardiorrenais benéficos e redução de internações hospitalares.
MÉTODOS Estudo ecológico, retrospectivo, baseado em dados do SIH/DATASUS (2015-2023), selecionando internações por IC (CID-10: I50). As taxas de internação foram calculadas por 100.000 habitantes, com comparações regionais e temporais, destacando os períodos antes (até 2017) e após (a partir de 2018) a introdução dos iSGLT2.
RESULTADO O número total de internações por IC reduziu de 218.903 em 2015 para 163.453 em 2021, seguido de aumento em 2022 (201.793) e 2023 (207.028). O Sudeste e o Nordeste concentraram a maior parte das internações. No Sudeste, o pico foi em 2015 (91.377), com queda até 2021 (70.601) e novo aumento em 2023 (88.251). No Nordeste, as internações caíram de 51.327 (2015) para 36.875 (2021) e subiram para 46.811 (2023). A região Norte apresentou o maior crescimento proporcional em 2023 (14.145 internações). As regiões Sul e Centro-Oeste tiveram queda gradual até 2021 e posterior aumento.
Os custos hospitalares cresceram 10,10%, atingindo R$ 426,7 milhões em 2023. O Sudeste liderou em valores absolutos (R$ 1,29 bilhão), seguido pelo Sul (R$ 656,3 milhões) e Nordeste (R$ 609,4 milhões). O Norte apresentou os menores custos (R$ 25,84 milhões). Durante 2020 e 2021, os gastos caíram, provavelmente devido à pandemia de COVID-19, mas aumentaram significativamente entre 2021 e 2022 (+R$ 97,4 milhões).
Houve mudança no perfil etário: entre 2015 e 2017, a maioria das internações foi em indivíduos com mais de 70 anos, mas, após 2018, cresceu a proporção de pacientes entre 60 e 69 anos, sugerindo melhora no manejo ambulatorial. A taxa de mortalidade intra-hospitalar caiu de 12,4% (2015) para 11,2% (2023).
CONCLUSÃO Os resultados mostram redução das internações por IC entre 2015 e 2021, seguida de aumento em 2022 e 2023. O Sudeste e o Nordeste lideraram em números e custos, enquanto o Norte teve o maior crescimento em 2023. A introdução dos iSGLT2 pode estar associada à redução das internações, embora a pandemia também tenha influenciado as taxas. O aumento dos custos após 2021 sugere maior complexidade dos casos ou reajustes no reembolso do SUS. Esses achados reforçam a importância de políticas públicas para prevenção e manejo adequado da IC.