INTRODUÇÃO: O pré-condicionamento isquêmico (PCI) consiste na aplicação de curtos períodos de isquemia coronária alternados com reperfusão, tornando assim o coração mais resistente a um evento isquêmico subsequente. A associação desta estratégia com a Reabilitação Cardíaca pode contribuir assim com o tratamento dos pacientes com doença coronariana crônica.
CASO CLÍNICO: Paciente masculino, 65 anos, portador de cardiomiopatia isquêmica após infarto agudo do miocárdio em 2012, tratado com angioplastia da artéria descendente anterior (ADA).
Em 2018, iniciou um novo quadro de angina e dispneia de baixo limiar. Ecocardiograma mostrava fração de ejeção do Ventrículo Esquerdo (VE) de 38% e a ressonância estimou a massa infartada do VE em 38%. A coronariografia revelou Stent pérvio em ADA e nova lesão complexa em ramo marginal esquerdo, sendo optado pelo tratamento clínico otimizado.
Em 2021, iniciou programa de Reabilitação Cardíaca (RC), apresentando inicialmente dores frequentes, hipotensão arterial no esforço e infra-desnivelamento do segmento ST na frequência cardíaca de 105bpm.Após 1 ano de seguimento na RC com método PCI, evoluiu com melhora de 31,5% do VO2 máximo (de 12,7 para 16,7mL/kg.min), aumento do Equivalente Metabólico (3,3MET para 4,6 MET), assim como ampliação da frequência cardíaca de surgimento do infra-desnivelamento do segmento ST (127bpm).
DISCUSSÃO: Diversos estudos já demonstraram que proteção cardíaca é um dos principais efeitos do PCI, melhorando parâmetros hemodinâmicos, reduzindo lesão miocárdica de isquemia-reperfusão e preservando a função ventricular. Em pacientes com angina estável, os períodos de esforço desencadeiam um mecanismo de liberação de peptídeos e neurotransmissores que promovem vasodilatação, reperfusão e possível neovascularização.
Além disso, a melhora da capacidade aeróbica é um fator independente associado ao aumento da sobrevida em pacientes com doença coronariana crônica. Nestes pacientes, um aumento de 1ml/kg/min do VO2 pico está associado a redução de risco de morte cardiovascular e por todas as causas de 14-17%.
A RC se torna um ambiente seguro para o treinamento em vigência de isquemia, sob monitorização e acompanhamento dos parâmetros objetivos do desempenho funcional.
CONCLUSÃO: A incorporação do conceito de PCI na RC amplia a compreensão de como o exercício físico pode aumentar a capacidade funcional, conferir efeito protetor ao miocárdio na doença coronariana crônica, reduzindo a resposta isquêmica durante esforço, protegendo as células cardíacas e melhorando qualidade de vida a longo prazo.