Introdução: A utilização de inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) em cirurgias visa prevenir quadros hipotensivos, injúria miocárdica intraoperatória e mortalidade, especialmente em pacientes idosos. No entanto, ainda há questionamentos sobre a continuidade dessa terapia em pacientes jovens (menores de 18 anos) submetidos a cirurgias não cardíacas. Diante disso, por meio da síntese da literatura, busca-se avaliar se a manutenção ou suspensão dos IECA nesse perfil populacional influencia os desfechos hemodinâmicos e cardiovasculares intraoperatórios.
Métodos: Foi realizada uma busca em bases de dados de estudos publicados no PubMed, Web of Science, Cochrane e Scopus. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais comparando a descontinuação versus a continuação de inibidores do sistema renina-angiotensina antes de cirurgia não cardíaca. A razão de risco (RR) foi usada para desfechos binários com intervalos de confiança (ICs) de 95%. A heterogeneidade foi avaliada com estatística I² e valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. A análise estatística foi realizada utilizando o software estatístico R versão 4.4.1.
Resultados: Sete estudos foram incluídos em nossa meta-análise, com um total de 13,294 pacientes que foram descontinuados de IECAs e 4,938 que continuaram as medicações. As análises do nosso estudo revelaram uma diferença estatisticamente significativa relacionada aos eventos de injúria miocárdica, favorecendo o grupo de descontinuação de IECA em comparação ao grupo de continuação (RR 0.3688; IC 95% 0.1457 a 0.9237; P = 0.033; I2 = 96.8%). Entretanto, o desfecho de mortalidade não demonstrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos (RR 0.4933; IC 95% 0.1497 a 1.6251; P = 0.2453; I2 = 96.9%).
Conclusão: Nesta revisão sistemática e meta-análise, analisamos a continuação versus descontinuação dos inibidores do sistema renina-angiotensina antes da cirurgia não cardíaca. A descontinuação dos IECAs apresentou uma incidência menos significativa nos eventos de lesão miocárdica em comparação com o grupo de continuação, embora não tenha havido diferença significativa na mortalidade dos pacientes. Apesar disso, a eficácia potencial da descontinuação dos IECAs deve ser esclarecida por meio de novos e maiores ensaios clínicos randomizados.