Paciente masculino, 30 anos, diagnóstico de Linfoma aos 15 anos. Realizou tratamento quimioterápico e radioterapia (RTx) (30Gy no sítio da doença inicial e 40Gy na doença residual).
Após 15 anos, iniciou com dor torácica atípica. Encaminhado à emergência com eletrocardiograma sugestivo de isquemia subepicárdica e troponinas com curva de injúria miocárdica. Observou-se ao exame físico a demarcação da radioterapia prévia no torax. Submetido ao cateterismo cardíaco, evidenciando doença arterial coronariana (DAC) trivascular (coronária direita com lesão de 80% no óstio; tronco da coronária esquerda com aterosclerose difusa; descendente anterior com lesão de 95% no segmento proximal e oclusão do terço médio da artéria circunflexa). Ecocardiografia com fração de ejeção de 68% e ausência de alterações segmentares. Realizada cirurgia de revascularização miocárdica com sucesso.
Paciente com boa evolução pós operatória após 5 anos, classe funcional I e com adequado controle dos fatores de risco.
Revisão de literatura:
A RTx mediastinal, amplamente utilizada em diversas neoplasias, possui íntima relação com estruturas cardíacas e não raramente está associado a complicações cardiológicas, como pericardites e miocardites, DAC, doenças valvares, insuficiência cardíaca e distúrbios elétricos.
A DAC pós RTx, importante causa de morbimortalidade em sobreviventes ao tratamento, pode se manifestar precocemente mesmo em pacientes sem fatores de riscos clássico.
A definição da radio toxicidade também é bastante dificultosa, sendo basicamente definida pelo surgimento de cardiopatias, após o início da RTx, sem outras causas definidas, podendo ocorrer até décadas após o tratamento.
O dano vascular secundário à exposição a radiação, gera disfunção endotelial e leva à uma resposta inflamatória, com agregação plaquetária e aumento da permeabilidade vascular, favorecendo o depósito lipídico. A inflação crônica provoca a liberação de citocinas pró-inflamatórias, infiltração de macrófagos e processo aterosclerótico. Além disso, a radiação induz fibrose e redução da complacência dos vasos, aumentando a rigidez arterial.
Com a evolução da RTx, as complicações relacionadas aos tratamentos vêm reduzindo. Indivíduos submetidos a quimioterapia e/ou RTx para linfomas antes dos 21 anos apresentaram 41,5 vezes mais incidência de DAC, com especial acometimento das artérias descendente anterior e circunflexa.
O manejo do paciente com DAC induzida por RTx requer um acompanhamento cardiovascular cuidadoso a longo prazo, especialmente nos primeiros doze meses após a conclusão da terapia.