Contexto: A obesidade é um fator de risco cardiovascular global, mas seu impacto nos desfechos cirúrgicos da aorta ainda não está claro. Este estudo avalia a influência do IMC nas complicações perioperatórias, mortalidade hospitalar e tempo de internação em pacientes submetidos à cirurgia de aneurisma da raiz e aorta ascendente (ARAAA).
Métodos: Analisou-se retrospectivamente 1.154 pacientes operados entre 2002 e 2024 no Incor-FMUSP. Os pacientes foram classificados em cinco grupos de IMC: baixo peso (<18,5 kg/m²), normal (18,5-24,9 kg/m²), sobrepeso (25-29,9 kg/m²), obesidade classe I (30-34,9 kg/m²) e obesidade classe II/III (≥35 kg/m²). Incluíram-se cirurgias envolvendo da valva aórtica ao hemiarco: 595 operações de Bentall, 386 substituições da aorta ascendente, 152 reconstruções da raiz da aorta com preservação valvar e 21 operações de Cabrol. Foram comparados dados epidemiológicos, comorbidades e desfechos. Excluíram-se reoperações e procedimentos associados.
Resultados: Pacientes obesos (IMC ≥ 30 kg/m²) tiveram maior prevalência de diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia (p < 0,001). Pacientes com baixo peso precisaram mais de transfusão de hemácias (9,6%, p = 0,021) e realizaram mais cirurgias de Bentall (61,5%, p = 0,027). Já a substituição da aorta ascendente foi mais comum em obesos classe I e II/III (43,0% e 41,7%, p = 0,001). Não houve diferenças significativas nos tempos de perfusão cerebral, isquemia miocárdica ou circulação extracorpórea. Pacientes com obesidade classe II/III apresentaram maior incidência de lesão renal aguda (p = 0,048). O baixo peso associou-se a mais reoperações (21,2%, p < 0,001) e maior tempo de internação (mediana de 14 dias, p = 0,005). A mortalidade hospitalar não variou entre os grupos (p = 0,627).
Conclusão: O IMC teve pouca influência na morbidade e não afetou a mortalidade. Baixo peso aumentou reoperações e internações, enquanto a obesidade elevou complicações sem impacto na mortalidade.