Introdução: A origem anômala das artérias coronárias (OAAC) compreende desordens congênitas caracterizadas pela emergência de uma coronária fora de seu Seio de Valsalva (SV) correspondente, com prevalência estimada em 0,8% na população geral. O risco de Morte Súbita (MS) depende das características anatômicas do trajeto arterial e o tratamento cirúrgico visa à correção da anomalia. Todavia, a abordagem ideal para casos sem evidência de compressão extrínseca permanece indefinida na literatura.
Apresentação do Caso: Homem de 60 anos, assintomático, teste ergométrico positivo, procurou avaliação após angiotomografia de coronárias que mostrou OAAC da coronária esquerda no SV direito. Trata-se de um esportista que perdera 50 kg nos últimos 6 meses após mudança do estilo de vida. A Cinecoronariografia com avaliação combinada de FFR sob estresse farmacológico (Dobutamina) e ultrassom intracoronário (IVUS), foi positiva para isquemia ( FFR = 0.79), com um frequência cardíaca de 133 bpm, com salto isquêmico na porção médio-distal da artéria Descendente Anterior e Taquicardia Ventricular Não-Sustentada. A imagem do IVUS, antes e durante o estímulo inotrópico e cronotrópico máximos, não demonstrou compressão extrínseca. A decisão conjunta entre o Heart Team e o paciente foi por tratamento conservado e reabilitação cardíaca.
Discussão: A OAAC da Coronária Esquerda chega a ser 8 vezes mais rara do que a da direita e está associada a maior risco de MS. Há indicação de tratamento cirúrgico para pacientes sintomáticos/isquêmicos com trajeto maligno, para redução de sintomas e de mortalidade. Não obstante, a conduta para casos com isquemia e sem compressão extrínseca segue tema de debate corrente, sem consenso na literatura, impondo necessidade de individualização e de averiguação multidisciplinar.
Conclusão: Este relato ressalta a importância da multimodalidade de métodos para a completa estratificação da OAAC, em face da possibilidade de haver isquemia sem trajetos malignos nem compressão. Por fim, a lacuna de evidências sobre o tema sublinha a necessidade de novos estudos, que elucidem o mecanismo da isquemia na ausência de trajeto maligno e de compressão extrínseca, bem como técnicas cirúrgico-intervencionistas eficazes para redução do risco de MS nesta população.