Contexto: Após infarto do miocárdio (IM), o ventrículo esquerdo (VE) sofre alterações morfológicas, estruturais e funcionais, um processo chamado remodelação cardíaca, influenciado por fatores como disfunção metabólica, estresse oxidativo e inflamação. A metformina (MET) tem sido estudada além do efeito antidiabético, com evidências de cardioproteção direta, ações anti-inflamatórias, antiproliferativas e antioxidantes. Recentemente, o intestino e sua microbiota surgiram também como possíveis locais de ação. Objetivo: Avaliar o efeito da MET na remodelação cardíaca após IM em ratos. Métodos: Ratos Wistar não diabéticos (220-250 g) foram submetidos ao IM por ligadura da artéria coronária esquerda, ou cirurgia simulada (Sham). Após 7 dias, com base na ecocardiograma (ECO) para homogeneidade do IM, foram divididos em 3 grupos: Sham não tratado (Sham n=20); Infarto não tratado (Inf n=27); e Infarto tratado com MET (Inf+MET n=23). A MET foi dada em solução aquosa na dose de 250 mg/kg/dia por 3 meses. Ao final do período, os ratos passaram por ECO, seguido de eutanásia. Realizamos estudo do coração isolado, histologia do VE, atividade enzimática do VE, estresse oxidativo, expressão proteica do VE por Western-blot, metabolômica sérica não-alvo e análise da microbiota intestinal em amostras fecais. A comparação entre grupos foi feita por ANOVA ou teste de Kruskal-Wallis, se distribuição normal ou não, respectivamente. Para a microbiota, em específico, usou-se PERMANOVA. Em todas as comparações pResultados: O grupo Inf+MET ingeriu menos água e ração, sem diferença no peso corporal. O IM induziu mudanças estruturais e funcionais no VE, vistas no ECO e estudo com coração isolado. No tecido miocárdico, o grupo Inf+MET mostrou menor estresse oxidativo e atividade de hexoquinase, e aumento da IL-10 (citocina anti-inflamatória). Na histologia, o grupo Inf+MET teve área de secção transversal de cardiomiócitos e deposição de colágeno menores que o grupo Inf, sem diferença no tamanho do IM (50±10% vs 51±8%, respectivamente). A MET aumentou a alfa- e beta-diversidade da microbiota intestinal. Por fim, o grupo Inf+MET teve reduçao de 6 metabólitos (arginina, nicotinamida, triptofano, carnitina, butirilcarnitina e ácido hipúrico) e elevação de 2 (ácidos azelaico e subérico). Conclusão: A metformina atenuou a remodelação cardíaca pós-IM em ratos, por meio da modulação do estresse oxidativo, metabolismo energético, bem como reduzindo a hipertrofia e a fibrose intersticial, além de causar alterações na metabolômica e microbiota.