1. Introdução
A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é a cardiopatia genética mais prevalente, transmitida de forma autossômica dominante. Sua interação com a doença arterial coronariana (DAC) apresenta desafios clínicos significativos, dificultando o diagnóstico e o manejo terapêutico. A isquemia miocárdica observada em pacientes com CMH não ocorre devido à presença de placas ateroscleróticas nas artérias epicárdicas, como na DAC, mas sim devido a um desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio. Isso pode levar à insuficiência coronariana sem evidências típicas de obstrução.
2. Relato de Caso
Paciente masculino de 55 anos com diagnóstico de DAC aos 44 anos, quando sofreu infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAM SST), sendo indicada cirurgia de revascularização do miocárdio (MIE-ADA) em 2013. Em 2018, o paciente foi submetido a duas intervenções percutâneas com angioplastia da artéria circunflexa e do ramo diagonal.
Apresentava também CMH septal assimétrica obstrutiva, com ecocardiograma evidenciando espessamento septal de 20mm, com gradiente de 71 mmHg após manobra de valsava, caracterizando obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo. Apesar da otimização terapêutica com antianginosos em doses máximas toleradas, persistia queixas de angina limitante.
A cintilografia com dipiridamol mostrou uma carga isquêmica de 12%. A investigação anatômica revelou que o enxerto de MIE-ADA estava pérvio, sem lesões passíveis de abordagem. Após discussão com Heart Team, optado por realizar procedimento de redução septal por radioablação, com sucesso, paciente teve melhora importante de angina
3. Conclusão
A associação entre CMH e DAC é um cenário clínico complexo, com impacto negativo no prognóstico e na sobrevida dos pacientes. O risco aumentado de infarto do miocárdio, fibrose miocárdica, arritmias malignas e morte súbita torna essencial o acompanhamento constante desses pacientes para definição de estratégias terapêuticas adequadas. O tratamento envolve controle rigoroso dos fatores de risco, manejo do duplo produto e adoção de intervenções percutâneas ou cirúrgicas nos casos de DAC obstrutiva. No contexto da CMH refratária a medidas clínicas, a ablação septal surge como alternativa terapêutica, complementada por outras opções como miectomia e alcoolização do septo.
Este caso ilustra a complexidade no manejo de pacientes com CMH e DAC coexistentes, reforçando a importância de um tratamento personalizado, considerando as particularidades clínicas para otimizar os resultados terapêuticos e a qualidade de vida dos pacientes.