Introdução
A trombose de próteses valvares mecânicas (TPVM) é uma complicação rara e de alta morbimortalidade. A conduta terapêutica é baseada em opinião de especialistas, com baixo nível de evidência científica e pode ser anticoagulação (ACO) parenteral, trombólise ou tratamento cirúrgico. Este caso ressalta a importância da detecção precoce, e da decisão em Heart Team para melhores desfechos.
Resumo do caso
Mulher, 36 a., com antecedente de cirurgia de Bentall de Bono com prótese mecânica, foi admitida com dor no flanco direito, devido a trombose de artéria renal direita. Relatava perda do som do clique protético e vinha em tratamento para tuberculose, com vários reajustes na ACO: INR 1,6 na admissão. Ecocardiograma transeofágico (EcoTE) evidenciou trombo de cerca de 10mm em prótese mecânica aórtica, e imobilidade do seu folheto posterior. Na ocasião, a paciente encontrava-se em insuficiência cardíaca classe funcional II. Havia apresentado há 4 anos episódio de TPVM durante a gestação, sendo submetida a trombectomia, complicada com perda fetal no intraoperatório.
Resultados:
Com o diagnóstico da nova TVPM aórtica, o caso foi discutido em Heart Team. Várias estratégias terapêuticas foram debatidas: trombólise, anticoagulação plena com seguimento ecocardiográfico ou intervenção cirúrgica imediata. Pela presença de trombo de grandes dimensões com risco elevado de novas embolizações, bem como o antecedente de duas cirurgias cardíacas prévias, foi optado pela anticoagulação plena com heparina não fracionada e controle ecocardiográfico. Aos 13 dias de anticoagulação plena, a paciente estava assintomática e sem novas embolias, mas o EcoTE ainda mostrava restrição da movimentação do folheto posterior apesar da redução da carga trombótica (Figuras 1 e 2). A angiotomografia confirmou a presença de trombo em posição subvalvar causando restrição à abertura do folheto posterior (Figura 3). Nesse contexto, foi optado por intervenção cirúrgica, com troca para nova prótese mecânica valvar e disponibilização de monitor portátil de INR para maior controle da ACO.
Conclusão: Esse caso ilustra a dificuldade da decisão terapêutica em paciente com trombose de valva mecânica e o constante desafio de assegurar estabilidade de ACO com varfarina.